"Tinha uma mulher. Eleita.

 



Que venceu um homem.

Tinha uma mulher que não tinha um homem.
Que não precisava andar atrás de homem, que não precisava do dinheiro de um homem e, por isso, não precisava de permissão de homem para escolher no restaurante, porque bancava as próprias vontades.
Tinha uma mulher que não era amiga, nem condecorava milícia, nem homenageava torturador porque sabia da covardia da violência.
Tinha uma mulher que não andava de rosa, nem gostava de babadinhos.
Uma mulher considerada "grossa", "intratável", essas coisas permitidas aos homens e neles vistas como "atitudes".
Tinha uma mulher que nunca aceitou o lugar de "graciosa" e "delicada" porque nunca aceitou o lugar de "voluntária" e preferiu o de protagonista.
Tinha uma mulher que não se escorava na bíblia violenta, machista e fálica das espadas, lanças e de deuses dos exércitos.
Tinha uma mulher que gostava das letras, dos livros, do teatro e do cinema.
Tinha uma mulher que confiava em outras mulheres em suas áreas de atuação ou ministérios.
Tinha uma mulher que respeitava poderes.
Tinha uma mulher que respeitava imprensa.
Que nunca determinou revista aos pertences dos jornalistas ou exigiu que estes chegassem em agendas presidenciais com cinco horas de antecedência, ou que ficassem, na cobertura destas agendas, sem água e sem banheiro.
Tinha uma mulher que nunca cerceou o fazer profissional cancelando assinaturas de jornais ou ameaçando retirar concessões.
Tinha uma mulher que nunca se negou a prestar esclarecimentos para o país.
Tinha uma mulher que não se acovardava atrás de claques. Tinha uma mulher que nunca fez menção a opção e práticas sexuais de ninguém porque entendia que isso não era assunto público, muito menos de Estado.
Tinha uma mulher".
(Vanessa Maia)
Jornalista / Professora

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