SOBRE IRRESPONSABILIDADE E OFENSA GRAVE

 



O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, alertou corretamente sobre "orientações para as Forças Armadas atacarem o processo eleitoral". Manifestou justa preocupação, reconhecendo que, desde a democratização (tutelada, digo eu), há 33 anos, não veio "nenhuma notícia ruim" das FFAA.
Pois o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, melindrado, reagiu em nota, pedindo provas dessa "orientação" e dizendo que afirmar isso é "irresponsável e ofensa grave".
Dou minha modestíssima contribuição: quem "orienta" esse ataque ao processo eleitoral é Bolsonaro, com sua cruzada contra as urnas eletrônicas e indícios crescentes de que não aceitará o resultado das urnas de outubro, caso perca (a la Trump). O capitão tem generais no seu entorno que lhe obedecem e respaldam.
Quem dá aval à "politização" das Forças Armadas são, por exemplo, aqueles que organizaram o ridículo, poluidor e intimidatório desfile militar na Esplanada dos Ministérios, ano passado. É quem diz, como o deputado zero alguma coisa de Jair, que "basta um tanque e um soldado para fechar o Supremo". Ou quem proclama que "morre de saudades do AI-5" apoiado pelos tanques, que tanto matou. Não vi notas de repúdio da Defesa a respeito.
"Irresponsável", sr ministro, é quem debocha e despreza a tortura praticada durante o regime militar, como o general da reserva Mourão, vice-presidente da República, e o presidente do Superior Tribunal Militar, general Gomes Mattos.
Quem pratica "ofensa grave" à democracia é quem articulou, com o grande empresariado nacional e multinacional e a mídia dominante, o golpe de 64. Aquele que rasgou a Constituição e jogou o país numa quadra de censura, repressão cruel e ditadura.
A melhor forma de defender o papel estritamente constitucional das Forças Armadas, mais do que lançando nota contra qualquer crítica ou observação, é agindo com discrição. Com respeito absoluto ao poder civil e às eleições democráticas e transparentes, repudiando todas as ameaças golpistas.
E combatendo, como é de seu dever, os ataques criminosos a povos indígenas, desmatamento ilegal, mineração clandestina (sobretudo na Amazônia) e contrabando de armas e munições.
Laerte, com sua arte, também alerta!

Autor: Chico Alencar
Imagem: Laerte Coutinho

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