Teoria de jornalista sugere laços da família Bolsonaro com mais de 30 crimes
A thread, publicada no twitter, tem um trabalho minucioso de investigação e fontes
O jornalista Marlos Ápyus publicou em seu perfil do twitter uma thread bem completa sobre as relações da família Bolsonaro. Seguem os tweets; os links estão disponíveis na thread original.
– ACIMA DE TUDO
Essa thread é, antes de qualquer coisa, uma homenagem a esses profissionais, que já não levavam uma vida fácil, mas tudo ficou ainda mais complicado com o autoritarismo dos que chegaram recentemente ao poder.
Cada informação aqui compartilhada traz um link para a fonte que a apurou. Alguns links, no entanto, surgem mais de uma vez, já que comportam mais de uma informação útil à cronologia dos fatos.
Cronologia que, como se perceberá, começa no estado de São Paulo.
– LAMARCA
Era 8 de maio de 1970. Em Eldorado, Carlos Lamarca e sete guerrilheiros trocam tiros com policiais e fogem. O Exército mobilizaria centenas de homens à região, chamando a atenção do jovem Jair Bolsonaro, então com 15 anos.
Com relatos conflituosos, o próprio parlamentar narraria que ajudou os militares nas buscas pela mata.
Lamarca, contudo, só seria encontrado e morto a tiros no município de Ipupiara, na Bahia, no 17 de setembro de 1971
Segundo os militares, o tiro fatal partiu do então major Nilton Cerqueira.
Bolsonaro é o ‘moleque sabido’ que ajudou na captura de Lamarca? Candidato repete que participou de busca a líder esquerdista, mas se aproveita de mito da caserna para avolumar – enganosamente – a própria biografia.
– LÁ EM ACARI
Vinte e quatro anos depois, no Rio de Janeiro, Bolsonaro sai de casa por volta das 8h da manhã de 4 de julho de 1995. No caminho, é assaltado por dois bandidos armados, que levam a moto e a glock que o deputado federal trazia na jaqueta.
No mesmo dia, a Secretaria de Segurança Pública designa cinquenta policiais na busca pelos objetos roubados.
Um grupo foi à favela do Jacarezinho, onde Bolsonaro imaginava que os bandidos estivessem. Mas nada encontrou.
A Secretaria de Segurança Pública do Rio estava aos cuidados de Nilton Cerqueira, o major que matou Lamarca.
Linha dura, ele seria responsabilizado pelo Ministério Público em 2014 por participar do planejamento do atentado à bomba no Riocentro, em 1981.
De volta a 1995, três depois após o assalto, a moto de Bolsonaro é encontrada na favela de Acari.
Na mesma semana, o secretário de Segurança organiza uma operação contra o narcotráfico nas favelas da Zona Norte.
Mas o líder do tráfico em Acari só foi encontrado em 4 de março de 1996.
Assim como Lamarca, estava na Bahia. Foi preso às 23h e, de avião, transferido para a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
No dia seguinte, o líder do tráfico amanhece enforcado com um nó de marinheiro. Os peritos disseram ser suicídio.
O próprio governador referiu-se ao caso como “suposto suicídio”. Mas a polícia ventilou que o suicida seria fuzileiro naval e, portanto, conhecia o nó.
No enterro, contudo, a mãe e a esposa do traficante disseram que o líder do tráfico nunca fora militar, e que não saberia fazer aquele nó.
Um mês depois, ambas apareceram mortas a tiros às margens da Presidente Dutra.
Em 30 de julho de 2018, quando da participação no Roda Viva, Bolsonaro relembraria o episódio:
“Nós recuperamos a arma e a motocicleta e, por coincidência, o dono da favela lá de Acari apareceu morto, um tempo depois. Não matei ninguém, mas aconteceu.”
– GUARNIÇÃO DO MAL
Foi também em 1996 que Adriano da Nóbrega entrou para a PM fluminense, onde ficaria amigo de Fabrício Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro havia 12 anos.
Quatro anos depois, Adriano concluiu o curso de operações especiais do Bope.
Em 12 de agosto de 2003, já no quarto mandato como deputado federal, Bolsonaro discursou na Câmara em defesa dos esquadrões da morte: “Esses grupos de extermínio são muito bem-vindos. E se não tiver espaço na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro.”
Em 24 de outubro daquele ano, Flávio Bolsonaro usa a ALERJ para homenagear Adriano da Nóbrega, primeiro-tenente do BOPE, “pelos inúmeros serviços prestados à sociedade”.
Apenas quatro dias depois, juntamente com oito policiais que integravam o grupo conhecido como “Guarnição do Mal”, Adriano sequestrou, torturou e extorquiu Wilton Arjona da Silva.
Uma semana depois, ainda sem o caso se tornar público, os integrantes do grupo receberam “moções de louvor” de Flávio Bolsonaro na ALERJ.
Os membros da Guarnição do Mal repetiram o crime em 11 de novembro de 2003, desta vez com Anderson Luiz Moura como vítima.
Dez dias depois, em 21 de novembro de 2003, foi a vez de Leandro dos Santos Silva, de 24 anos, passar por sequestro e tortura. Após três dias, Leandro prestou queixa à corregedoria interna da Polícia Militar. Às 6h30 da manhã seguinte, Leandro foi assassinado na porta de casa com três tiros.
Em agosto de 2005, novamente por indicação de Flávio, Adriano da Nóbrega recebe a medalha de Tiradentes, principal honraria da ALERJ.
Nessa mesma época, o já ex-membro do Bope começou a atuar como segurança para familiares do falecido bicheiro Valdomiro Paes Garcia, o Maninho.
Quase dois anos após o crime, em 24 de outubro de 2005, Adriano da Nóbrega e os demais policiais acusados pela morte de Leandro foram finalmente condenados.
Passados três dias, Jair Bolsonaro usou os microfones da Câmara Federal para defender o comandante da Guarnição do Mal, tratado por ele como “um brilhante oficial”.
No discurso, o registro de que o deputado federal acompanhara o julgamento in loco, e prometia atuar para reparar o que entendia ser uma injustiça.
Disse Bolsonaro:
“Pela primeira vez compareci a um tribunal do júri. Estava sendo julgado um tenente da Polícia Militar de nome Adriano”.
“Não sei como podemos colaborar. O advogado vai recorrer da sentença, mas os outros coronéis mais modernos não podem depor, senão vão para a geladeira, vão ser perseguidos. E o tenente, coitado, um jovem de vinte e poucos anos, foi condenado”.
Ao fim, falando na primeira pessoa do plural, o deputado federal disse querer se “assessorar” com Denise Frossard, magistrada que cumpria um único mandato como parlamentar pelo mesmo Rio de Janeiro:
“Quero me assessorar com a Deputada Juíza Denise Frossard e com outros juízes para saber como podemos proceder no futuro.”
O júri que condenou os policiais da Guarnição do Mal findaria anulado, com absolvição para todos os condenados em primeira instância.
De acordo com investigação interna da PM, Adriano participaria de ao menos oito homicídios entre 2006 e 2009, a mando do genro do bicheiro Maninho.
– ESCRITÓRIO DO CRIME
Em 6 de dezembro de 2003, uma chacina acaba com a vida de cinco jovens na antiga boate Via Show, em São João de Meriti.
Um major de nome Ronald Pereira é apontado como um dos autores.
Um mês e meio depois, uma operação realizada na Zona Norte do Rio resultou em um confronto onde três vieram a falecer, sendo um deles o líder do tráfico no Conjunto Esperança, conhecido como Macumba.
Nela, o major Ronald se destaca.
No março de 2004, Ronald recebe uma homenagem por meio de uma moção honrosa proposta por Flávio Bolsonaro
.
Há milícias no Rio de Janeiro desde a ditadura militar, quando policiais em folga começaram a receber dinheiro de pequenos comerciantes para a proteção da vizinhança na periferia.
O fenômeno surgiu em várias regiões da cidade ao mesmo tempo, tendo Rio das Pedras um dos crescimentos mais intensos.
Um relatório da Anistia Internacional, todavia, aponta que 2006 foi um divisor de águas. “Num período de seis meses, esses grupos começaram a competir pelas áreas controladas pelas facções do tráfico.” Terminariam o ano com um quinto das favelas da cidade.
Em 16 de março de 2007, Flávio Bolsonaro já tinha votado contra a CPI das Milícias. Mas foi além e passou a dar declarações favoráveis à legalização do trabalho dos milicianos.
Em 17 de dezembro de 2008, Jair Bolsonaro critica na Câmara o resultado da CPI das Milícias alegando que nem todo miliciano era “símbolo de maldade”, e que “não podemos generalizar. Existe miliciano que não tem nada a ver com ‘gatonet’, com venda de gás”.
Em 2018, já na disputa pelo Senado, Flávio negaria que Bolsonaro defendia milicianos.
Para o deputado estadual, no entanto, não havia problema em policiais venderem serviço de segurança privada para a vizinhança – justo o que originou as milícias.
Em 12 de abril de 2019, dois prédios desabaram em Muzema matando 16 pessoas.
“A Prefeitura informou que construções são irregulares, mas liminar impediu demolição. A comunidade é controlada por milicianos.”
Cinco pessoas morrem em desabamento de prédios na Muzema, comunidade na Zona Oeste do RioNove pessoas foram resgatadas com ferimentos. Bombeiros vasculham local para tentar localizar outras possíveis vítimas; parentes e moradores citaram desaparecidos.
A milícia era o Escritório do Crime. Ela erguia prédios irregulares em Rio das Pedras e Muzema. Para tanto, fazia uso de três empresas que usam laranjas como sócios. E um contador que paga “propina a um suposto funcionário da Prefeitura do Rio”.
RJ: Milícia usa esquema de cartórios e alvarás para ter prédios irregulares.
O objetivo era conseguir junto à prefeitura alvarás para o térreo dos imóveis. Isso dificulta uma interdição do prédio pelo poder público.
Nas escutas, duas pessoas ligadas a igrejas evangélicas tentavam comprar imóveis – uma delas aparentava não saber da irregularidade do prédio.
RJ: Milícia usa esquema de cartórios e alvarás para ter prédios irregularesO Escritório do Crime, considerado a principal milícia do Rio de Janeiro, usa ao menos três pequenas construtoras e uma imobiliária para erguer e negociar imóveis ilegais.
As investigações indicavam que os milicianos “tinham acesso a informações privilegiadas sobre ações policiais em andamento”.
Em Muzema, o Escritório do Crime é chefiado por Ronald Pereira. Mas a milícia como um todo responde a Adriano da Nóbrega. Eram os mesmos homenageados por Flávio em 2003 e 2004.
Milícia na Muzema é chefiada por major da PM, suspeito de controlar construção de imóveis irregularesRonald Paulo Alves Pereira foi preso na Operação Os Intocáveis e pode ter ligação com o assassinato de Marielle Franco. Prédio que desabou na comunidade nesta sexta deixou dois mortos.
– HUMILHAVA POLICIAIS
Em 11 de agosto de 2011, a juíza Patrícia Acioli, responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio, morre em uma emboscada na porta de casa com 21 tiros de calibres .40 e .45, de uso restrito da polícia.
No dia seguinte, Flávio Bolsonaro lamenta a morte da juíza, mas acrescenta que “a forma absurda e gratuita com que ela humilhava policiais nas sessões contribuiu para ter muitos inimigos”.
Todos os 11 policiais réus no processo pela morte da juíza Patrícia Acioli seriam considerados culpados em 14 de abril de 2014.
– GABINETE RACHADO
A mulher do capitão do Bope homenageado por Flávio Bolsonaro em 2003 e 2004 surge em novembro de 2010 nos quadros da ALERJ como assessora no gabinete de… Flávio Bolsonaro.
Em 12 de abril de 2016, O Globo informa que, agindo de forma semelhante a milícias, “policiais ligados a empresas de segurança passaram a assediar síndicos e comerciantes” pedindo 900 reais para “qualquer condomínio fica livre de pedintes ou mendigos” em Copacabana.
A empresa se chamava Santa Clara Serviços, e tinha entre os sócios o cabo PM Diego Ambrósio.
Em conversa por WhatsApp de 5 de dezembro de 2017, Fabrício Queiroz dá a entender que a família Bolsonaro conhecia e temia o fato de Danielle Mendonça ser casada com Adriano da Nóbrega, apontando como miliciano chefe do Escritório do Crime.
Quase um mês depois, ficou pronto o relatório do Coaf com as movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio Bolsonaro.
No entanto, o conteúdo do documento só se tornaria público após as eleições de 2018
Em 30 de agosto de 2018, a Operação Quarto Elemento prende 42 suspeitos, incluindo 3 policiais homenageados por Flávio, e dois PMs que participavam da campanha do deputado ao Senado – os gêmeos eram irmãos de Val Meliga, que seria assessora do parlamentar.
Só agora, em 18 de dezembro de 2019, descobriram que um PM investigado pagou prestação do apartamento de Flávio Bolsonaro. Era Diego Ambrósio, o cabo que, em 2016, virou notícia quando sua empresa agia “como milícia” em Copacabana.
– INTERVENÇÃO FEDERAL
Em 16 de fevereiro de 2018, Michel Temer assinou um decreto ordenando uma intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
Luiz Fernando Pezão, então governador do Rio, admitia que não conseguia deter a guerra entre facções do estado, “ainda com um componente grave, que são as milícias”.
De imediato, Jair Bolsonaro se disse contra a intervenção federal alegando que era “uma intervenção decidida dentro de um gabinete, sem discussão com as Forças Armadas. Nosso lado não está satisfeito”
– 14 DE MARÇO
Além de trágico, o 14 de março de 2018 foi longo.
14 DE MARÇO, 12h28 A repórter Thais Bilenky, da Folha, publica que a assessoria de Jair Bolsonaro havia dito que ele voltara mais cedo de Brasília para o Rio de Janeiro por causa de uma “intoxicação alimentar”.
Contudo, o “Relatório de Presença em Plenário” registra a presença do deputado federal Jair Bolsonaro na Câmara Federal, em Brasília.
14 DE MARÇO, 15h58
O registro em áudio da portaria do condomínio de Jair Bolsonaro mostra uma voz feminina atendendo o interfone da residência 58, de Bolsonaro, no condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro.
14 DE MARÇO, 17h10
No Rio de Janeiro, a portaria do condomínio em que Jair Bolsonaro mora registra que um Renault Logan prata, de placa AGH-8202 dirigido por alguém chamado Élcio Vieira, solicitou uma visita à casa 58, a mesma do ainda deputado federal.
O porteiro, no entanto, notou que o carro havia ido à casa 65/66, de um policial reformado de nome Ronnie Lessa. O porteiro então interfona uma segunda vez à casa 58, mas “seu Jair” teria dito saber para onde Élcio estava indo.
Segundo fontes do Jornal Nacional, minutos depois, Élcio Queiroz e Ronnie Lessa entram no carro de Lessa, deixam o condomínio, e trocam de carro para um Cobalt.
Em 11 visitas registradas nas planilhas do condomínio, Élcio sempre teve como destino a casa 65, de Lessa. A única exceção é a entrada no 14 de março de 2018, quando a planilha indica que a autorização de acesso na portaria foi dada por alguém da casa 58.
14 DE MARÇO DE 2018, 17h13
No registro em áudio da portaria do condomínio de Jair Bolsonaro, a portaria interfona mesmo para a casa 65/66, e não para a 58, contrariando os dois depoimentos do porteiro.ão para a 58, contrariando os dois depoimentos do porteiro.
Contudo, a polícia confirmaria “que o porteiro que prestou depoimento e anotou no livro o número 58 (o da casa de Jair Bolsonaro), não é o mesmo que fala com o PM reformado Ronnie Lessa (dono da casa 65) no áudio divulgado por Carlos Bolsonaro”. Lessa começa a se movimentar no Quebra Mar da Barra da Tijuca.
Neste exato minuto, se encerra a sessão que, conforme Diário Oficial compartilhado pelo próprio Carlos Bolsonaro, registrava a presença do vereador na Câmara Municipal, a duas horas de distância do condomínio de Bolsonaro.
14 DE MARÇO DE 2018, 17h58
Apenas 28 minutos após o encerramento da sessão na Câmara Municipal, o registro em áudio da portaria mostra a voz de Carlos Bolsonaro autorizando a entrada de um Uber no condomínio de Bolsonaro.
Segundo os investigadores, o Cobalt com Élcio e Lessa chegam ao local do evento, mas não avistam o carro de Marielle.
“Eles então contornam o quarteirão. Quando estão próximos de completar a volta, encontram o carro da vereadora chegando a seu compromisso.”
14 DE MARÇO DE 2018, 19h
“Marielle chega ao local após um atraso de meia hora.”
14 DE MARÇO DE 2018, 19h09
“De volta à rua, os criminosos estacionam onde aconteceria a reunião da vereadora e aguardam por cerca de 2 horas.”
14 DE MARÇO, 20h08
Por breves segundos, a partir de 4:47:56 da transmissão, Jair Bolsonaro é visto na live da sessão da Câmara Federal, em Brasília.
14 DE MARÇO DE 2018, 20h35
O “Relatório de Presença em Plenário” registra novamente a presença do deputado federal Jair Bolsonaro na Câmara Federal, em Brasília.
14 DE MARÇO DE 2018, 21h
No Rio, “Marielle sai da reunião, acompanhada da assessora Fernanda Chaves, e entra no carro dirigido por Anderson Gomes. Os criminosos passam a perseguir o carro em que está Marielle”.
No dia seguinte, uma matéria da mesma repórter da Folha cita novamente a assessoria de Jair Bolsonaro como fonte de uma “intoxicação alimentar” que, dessa vez, impedia o deputado de comentar a morte de Marielle.
– BRECADA
Em 2011, Élcio Queiroz, o motorista que teria mandado interfonar para a casa 58, com a camisa de sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro, fez uma foto ao lado do então deputado federal Jair Bolsonaro.
Em 2018, um mês e meio após a morte de Marielle, Ronnie Lessa foi baleado no que foi noticiado como uma tentativa de assalto na avenida do condomínio em que morava.
Foi atingido de raspão no pescoço, mas sobreviveu.
Oito dias depois, no mesmo dia em que Fabrício Queiroz é exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro, Nathalia Queiroz, filha de Fabrício, é exonerada do gabinete de Jair Bolsonaro.
Passados 13 dias, Jair Bolsonaro é eleito presidente do Brasil.
A operação Furna da Onça vai às ruas em 8 de novembro de 2018 com 22 mandados de prisão investigar a participação de deputados estaduais em um esquema de corrupção na ALERJ.
Mas os investigadores encontram indícios de que a operação havia vazado.
Cinco dias depois, a mãe e a esposa do capitão do Bope homenageado por Flávio Bolsonaro em 2003 e 2004 são exoneradas em definitivo do gabinete do deputado estadual – que se preparava para assumir uma vaga no Senado.
Mãe e esposa de suspeito de integrar milícia trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro
Naquele mesmo novembro, a divisão de homicídios da polícia teve acesso à planilha que cita a casa 58, de Jair Bolsonaro, como a que seria o destino de Élcio Queiroz, motorista do atentado que vitimou Marielle Franco.
Há pouco, em 20 de dezembro de 2019, Gustavo Bebianno revelou que a investigação contra Flávio havia sido “brecada para não atrapalhar a campanha” de 2018.
– COAF
Só em 6 de dezembro de 2018 vem a público o relatório do COAF –concluído ainda em janeiro– apontando que Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio Bolsonaro, havia movimentado R$ 1,2 milhão em operações suspeitas.
A investigação fazia parte da Furna da Onça, aquela com suspeita de vazamentos.
De acordo com as investigações, a mãe e a já ex-esposa de Adriano da Nóbrega “repassaram 203 mil reais para Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro”.
Ao todo, elas receberam um milhão de reais como assessoras.
A mãe de Adriano da Nóbrega é sócia de um restaurante localizado na frente da agência na qual foi registrada a maior parte dos depósitos em dinheiro vivo feitos na conta do motorista de Flávio Bolsonaro.
No dia seguinte à revelação do relatório do COAF, Fabrício Queiroz, já ex-assessor do gabinete de Flávio Bolsonaro, se refugiou em Rio das Pedras.
Uma semana depois, o secretário de Segurança do Rio confirmou que Marielle havia sido morta por milicianos. Ela estaria próxima a um grupo que lutava contra a grilagem em Rio das Pedras, a mesma favela que Fabrício Queiroz havia se refugiado.
Em 9 de janeiro de 2019, a ex-esposa de Adriano da Nóbrega admite, em conversa no WhatsApp, que sabia da origem ilícita do dinheiro que recebia do gabinete de Flávio Bolsonaro – e repassava a Fabrício Queiroz e a Adriano da Nóbrega.
Uma semana depois, em conversa com Danielle Mendonça, Adriano da Nóbrega dá a entender que havia recentemente falado com Fabrício Queiroz sobre a exoneração da ex-esposa:
“O amigo pediu para você não ir em lugar nenhum e também não assinar nada”.
– OS INTOCÁVEIS
No 22 de janeiro de 2019, a operação Os Intocáveis detém milicianos que atuavam em Rio das Pedras.
Os principais alvos da operação eram os dois policiais homenageados por Flávio Bolsonaro em 2003 e 2004.
Havia indício de que ambos comandavam o Escritório do Crime, maior quadrilha de matadores do Rio.
Nesse mesmo dia, a esposa de Ronnie Lessa enviou para o marido uma foto da planilha de entrada do condomínio Vivendas da Barra, o mesmo de Jair Bolsonaro.
Nela, a indicação do acesso de Elcio Queiroz à casa 58, a de Bolsonaro, no dia do assassinato de Marielle Franco.
Apesar dos esforços da operação, Adriano da Nóbrega até hoje não foi encontrado.
– VIVENDAS DA BARRA
Em 10 de março de 2019, já como presidente da República, Jair Bolsonaro publica críticas infundadas contra a “filha de Chico Otavio”.
Constança Rezende era jornalista do Estadão. Chico Otavio, de O Globo.
Dois dias depois, prendem o PM que teria disparado para matar Marielle.
Ronnie Lessa morava a 3 casas de Bolsonaro. Em O Globo, a reportagem é assinada também por Chico Otavio, que 34 horas antes havia sido criticado por Bolsonaro no Twitter.
Sim, a operação havia vazado.
“Ronnie Lessa afirmou informalmente, no momento da prisão, que ele tinha sido avisado sobre a realização da operação previamente.”
Segundo as investigações, Lessa “já foi integrante do ‘Escritório do Crime’. (…) Também é suspeito de tráfico de armas – na casa de um amigo de Lessa no Méier, Zona Norte da cidade, os policiais encontraram 117 fuzis M-16 desmontados.”
“Lessa nem sequer se dava ao trabalho de agir às sombras. Para agenciá-lo, bastava dar uma passada no bar onde o ex-adido fazia ponto no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca.”
Sim, o mesmo Quebra-Mar em que Lessa foi baleado em abril de 2018.
Ainda que minimizando a informação, o delegado do caso confirmou que o quarto filho de Jair Bolsonaro havia namorado a filha de Ronnie Lessa.
No dia seguinte à prisão de Lessa e Élcio, Jair Bolsonaro disse que não se lembrar do vizinho suspeito, e que o “Zero Quatro” havia namorado “todo mundo no condomínio”.
O delegado que havia confirmado o namoro do filho de Bolsonaro com a filha do suspeito do assassinar Marielle é afastado do caso no dia seguinte à revelação.
A admiração pelo presidente era tamanha que o homem apontado como assassino de Marielle Franco usava uma foto de Jair Bolsonaro como avatar no Whatsapp.
Já Élcio, o motorista do atentado, exibia o slogan da campanha do presidente.
Segundo a denúncia, Elcio dirigia o cobalt de onde Lessa fez os 13 disparos.
No Facebook, em agosto de 2018, já após o assassinato, o ex-policial militar publicou a foto que havia feito com Jair Bolsonaro em 2011 – ela não mais está no ar.
– BRAZÃO
De saída da PGR, Raquel Dodge denunciou Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, por tentativa de obstruir as investigações.
Na denúncia, a PGR também afirmava que Brazão havia arquitetado o homicídio. E, sem questionar a participação de Élcio e Lessa como executores, pedia a federalização das investigações para apurar quem seriam os mandantes do crime.
Três dias depois, foi noticiado que o miliciano Orlando Curicica disse em depoimento que havia participado de um encontro em 2017 em que duas pessoas tramavam a morte de Marielle.
Estavam nessa reunião um policial militar que trabalhou como assessor de Brazão, e o miliciano Adriano da Nóbrega, chefe do “Escritório do Crime” de quem mãe e esposa trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro na época do encontro.
– ABSOLUTAMENTE PRÓXIMA
Em 3 de janeiro de 2018, Donald Trump disse que Steve Bannon, o principal conselheiro do principal conselheiro de Jair Bolsonaro, “durante seu tempo na Casa Branca, vazava informações falsas para a imprensa, para parecer muito mais importante do que era”.
Volta para 2019. Em março, o Ministério Público teve acesso à planilha que citava a casa 58, de Jair Bolsonaro, como destino do motorista do atentado que vitimou Marielle Franco.
Em julho de 2019, ataques de Jair Bolsonaro a Sergio Moro e ao diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, teriam sido motivados por um inquérit12:42 23/12/2019 outubro de 2019, o Jornal Nacional começou a apurar a citação à casa 58.
Oito dias depois, segundo o próprio Jair Bolsonaro, Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, vazou ao presidente da República que um porteiro havia citado o próprio presidente na investigação do caso Marielle.
Mais 8 dias, e o Ministério Público do Rio de Janeiro dribla o juiz do caso se permitindo uma consulta informal a Dias Toffoli sobre a citação do porteiro a Jair Bolsonaro.
Segundo Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, entre 1º e 29 de outubro, “uma fonte absolutamente próxima da família do presidente” tentou pautar o Jornal Nacional – que já estava pautado desde o dia 1º – com a matéria sobre o porteiro.
Em 19 de outubro, Bolsonaro embarcou para o Japão. No futuro, o próprio presidente contaria que, ainda na aeronave, relatou a ministros e assessores: “Durante a minha viagem, vai acontecer isso. A TV Globo vai falar em primeira mão esse caso da Marielle”.
No 29 de outubro, após as 20h30, o Jornal Nacional finalmente exibiu a reportagem sobre os depoimentos do porteiro do condomínio de Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro.
No mesmo dia, às 21h49, Jair Bolsonaro faz no Facebook uma transmissão ao vivo em que, alegando surpresa, faz duras críticas à Rede Globo e Wilson Witzel.
– DIGITAL NA PROVA
Na manhã seguinte, às 10h42, Carlos Bolsonaro publica um vídeo que desmente a versão do porteiro sobre a ligação à casa 58.
Mais de duas horas após Carlos deixar as digitais na prova, às 13h05m11s, o Ministério Público do Rio de Janeiro finalmente solicitou uma perícia nos áudios do interfone do condomínio de Jair Bolsonaro.
Vinte e um minutos depois, às 13h26, Carlos Bolsonaro publicou um segundo vídeo, desta vez com ligações que provam que ele estava em casa às 17h58 daquela tarde, quase noite.
Às 15h30 daquele 30 de outubro, a perícia no registro de áudio do condomínio ficou pronta – apenas 2h25 após a solicitação. Na mesma tarde, o Ministério Público concluiu que o porteiro havia mentido nos dois depoimentos.
Contudo, a perícia não foi feita no equipamento a que Carlos teve acesso, mas em “um CD” entregue pelo próprio síndico com uma cópia dos registros.
Uma das técnicas do Ministério Público que analisou o áudio já foi acusada, pela perícia da Polícia Civil, de ‘edição fraudulenta’ de uma escuta em uma outra investigação, de 2009.
E “uma perícia feita pelos técnicos do órgão não afasta a possibilidade de que áudios do sistema de interfone tenham sido excluídos antes de serem entregues à Polícia Civil”.
Ainda em outubro, conforme seria confirmado por três veículos, a Polícia Civil do Rio voltou a apurar a briga entre Carlos Bolsonaro e Marielle Franco.
Pelo menos quatro ex-funcionários de Carlos foram ouvidos.
No 1º de novembro, a promotora Carmen Eliza, que viralizava nas redes sociais numa fotografia em que surge fazendo campanha para Jair Bolsonaro, deixou o caso Marielle.
No dia seguinte, “o Sindicato dos Peritos Oficiais do Estado do Rio de Janeiro divulgou uma nota informando que a perícia técnica oficial não foi acionada para examinar a gravação apreendida no condomínio onde Jair Bolsonaro tem residência”.
Apenas em 7 de novembro, uma semana após Carlos Bolsonaro literalmente meter o dedo na prova, a Polícia Civil do Rio de Janeiro apreendeu os equipamentos de gravação do condomínio onde moravam Jair Bolsonaro e o suspeito de assassinato de Marielle Franco.
Seis dias depois, Carlos Bolsonaro abandonou as redes sociais.
No 19 de novembro, em um terceiro depoimento, desta vez à Polícia Federal, o porteiro mudou a versão.
Em 29 de novembro, chega a notícia de que os “investigadores do Rio receberam recentemente a informação de que Carlos Bolsonaro teria se desfeito de um computador”.
Já era dezembro, dia 2, quando Augusto Aras, procurador-geral da República escolhido fora da lista tríplice por Jair Bolsonaro, diz não ver “indícios mínimos” de que Jair e Carlos tenham obstruído a Justiça.
Em meio a tanta informação, talvez isso tenha sido ofuscado. Mas essa thread citou a morte de 40 brasileiros, 39 deles em período democrático.
Comentários
Postar um comentário
Comentários