“Esta democracia não é perfeita porque nós não somos perfeitos. Mas, temos de defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la”.


O golpe não foi dado por um bando de “porra-loucas”. O golpe foi gestado, planejado e organizado a partir de constantes viagens de seus líderes – ou executores – internos aos EUA. Desde que ficou claro, aos abutres locais e externos, que seria difícil tirar do poder aquela coalização de centro esquerda, que assumiu o poder em 2003. É preciso que tal fique evidente para que possamos organizar a resistência ao que ainda virá deste golpe.

Por João Sosa[*]

A presidenta Dilma disse, em Porto Alegre, no dia 23 de janeiro, que todo o golpe antes de ser vencido passa por um período em que se torna “duro demais”. E esse golpe se encaminha para isso. Então, teríamos que questionar o que seria esse momento de rijeza golpista.

Farei aqui um exercício de perspectivas futuras, tentando fazer uma interpretação do contexto histórico, não se trata de informação, mas também está longe de ser futurologia, se eu tivesse que apostar, diria que o planejamento dos golpistas é criar um caos, isto é, uma convulsão social, suficientemente necessária, para que em nome da segurança nacional se adie as eleições, para 2020, prolongando os atuais mandatos, e unificando as eleições no país.

O FMI, segundo a imprensa, teria afirmado que as eleições, neste momento, seriam prejudiciais a “retomada” do crescimento do país. Leia-se na verdade, retomada do país pelo mercado financeiro. O fato é que a direita, hoje, não tem um candidato viável e sabe muito bem que se for para disputar taco-a-taco com a esquerda um projeto de país o risco de derrota é grande. Seja com Lula como candidato ou com alguém ungido por ele. E o golpe foi muito bem estruturado para se por em risco neste momento.

A direita tem um grave problema a resolver, a saber, ela não conseguiu, pelo menos até agora destruir o PT e a imagem do ex-presidente Lula. Não foi por falta de tentativa, diga-se. Muitos têm escrito sobre o ponto inicial desse processo de golpe. Ele não começou em 2016, isso é fato. Mas teria sido, em 2013, quando das jornadas de Junho? Eu diria que o golpismo teve balões de ensaio muito antes desta data.

Agora condenam sem provas cabíveis o ex-presidente Lula, e o fazem sem qualquer receio, e isso só é possível por já ter sido feito antes. Em 20015, a ministra do STF seria a protagonista de um fato histórico ao condenar o ex-ministro Zé Dirceu, disse ela “não tenho provas contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura assim me permite”. Aquilo além de tirar de cena o maior articulador daquela coalização de centro esquerda e um alicerce vivo do governo petista, abriu caminho para a condenação sem provas do ex-presidente Lula. O golpismo soube ali, que poderia agir de tal forma que a reação ou não existiria ou não seria suficiente para impedir o “andar da carruagem”.

Começava a criminalização do PT, e da política como um todo, no velho discurso de falsa moralidade que a direita sempre adota, quando um governo é progressista, não se esqueçam de que o juiz Sérgio Moro foi assistente da ministra Rosa Weber na AP 470, começava-se a se articular a ideia de que era preciso fazer o petismo e sua coalizão apearem do governo. Naquele momento a intenção era, ainda, vencer o Lula nas urnas. Não por alguma característica democrática da direita. A direita não é democrática. Mas pelo receio de que o rompimento do pacto democrático, estabelecido na Constituição de 1988, levasse o país a uma “guerra civil”. Eles imaginaram, sim, que o Mensalão era o fim do petismo. Em 2005, o presidente do IBOPE disse que lula estava morto, segundo ele, naquele momento, não havia possiblidades de Lula ser reeleito, em 2006.

Os golpistas tiveram, então, uma surpresa Lula derrota o atual governador Alckmin, ainda que tenham feito de tudo para garantir o segundo turno, a saber, os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e, em especial, a TV Globo, beneficiaram o então candidato tucano Geraldo Alckmin e levaram as eleições presidenciais daquele ano ao segundo turno. Quinze dias antes do primeiro turno, em mais um balão de ensaio para o que viria anos depois, a imprensa supervalorizou a prisão de petistas, que supostamente, tentavam comprar por R$ 1,7 milhão um dossiê com falsas acusações contra os tucanos.

Porém, as fotos do dinheiro encontrado com os “aloprados do PT”, como eles ficaram conhecidos, o Presidente Lula os classificou desta forma, foram “vazadas” (olha o balão de ensaio) para a imprensa, coincidentemente, na véspera do primeiro turno, quando tudo, ainda indicava a vitória de Lula, sem precisar da segunda volta.

Contudo, uma fatalidade “quase atrapalhou” os planos da Globo, de dar todo o destaque no Jornal Nacional as fotos da apreensão do dinheiro, a saber, o acidente com avião da Gol que vitimou 155 pessoas. Sem problemas. Quem já manipulou, crime confessado pelo Boni, a edição do debate de 1989, esconder a notícia de um acidente aéreo é fichinha. É a lei “Passarinho”, “as favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.” A Globo, simplesmente, omitiu no Jornal Nacional o acidente que já era notícia em outros portais. O plano precisava seguir seu curso e não seria a morte de 155 pessoas que faria a Platinada mudarem o rumo.

Eles conseguiram levar às eleições ao segundo turno, mas não derrotaram o Lula, que venceu o tucano. A aposta, então, seria em liquidar os possíveis sucessores do Presidente Lula. A principal imagem que já vinha sendo destruída era de Zé Dirceu, nos últimos anos, ninguém, exceto o próprio Lula, foi tão duramente massacrado, pelo judiciário e pela imprensa, quanto ele.

Lula, então, tira da cartola a Ministra da Casa Civil, Dilma Vana Rousseff, a Presidenta legítima, embora tivesse uma longa história política, tenha trabalhado, inclusive tendo militado ao militava ao lado de Leonel Brizola e outros líderes trabalhistas. Sem problemas, ela é um “poste” declaram os “especialistas”, não passa de 10% vociferaram outros. Porém, Dilma, que havia sido presa e torturada durante a Ditadura Civil e Militar, venceu as eleições surpreendendo os golpistas.

Bom lembrar, que, naquele momento, o candidato José Serra, tucano derrotado pela Presidenta, inaugurou outro balão de ensaio, a pauta moralista. A presidenta Dilma foi acusada de ser “abortista”, o tema só saiu de foco quando vazou o fato da mulher de Serra, com o conhecimento dele, ter ele feito, ela própria um aborto.

Sem contar a bizarra trama da “bolinha de papel”, atingido por uma bolinha de papel, Serra simula ter sido vítima de algo mais perigoso e se dirige para um hospital onde é atendido pelo cirurgião médico de cabeça e pescoço Jacob Kligerman – que presidiu o INCA (Instituto Nacional do Câncer) na gestão de Serra na saúde. O médico declara à imprensa que Serra chegou ao consultório “com náuseas e tonteira”, uma tomografia é realizada.

O Jornal Nacional, sempre eles, divulgou reportagem onde endossava a versão da agressão com “objeto contundente”, um rolo de fita crepe, era a “suspeita”. Serra o herói atingido pela “guerra política”, banca a figura fragilizada que se propunha a resistir contra o mal.

Porém, ainda naquela noite, uma reportagem da SBT mostrava a cena da bolinha de papel (mas sem os seguranças), o telefonema recebido por Serra e, em seguida, ele levando a mão à cabeça. Na guerra de versões que se seguiu o JN convocou o perito Ricardo Molina para sustentar a sua “tese”, Serra havia sido atingido por um segundo objeto, sendo esse sim mais “contundente”.

Lula, que adora uma metáfora de futebol – mas tem um grave defeito, a saber, é corintiano – comparou Serra ao goleiro chileno Rojas – que simulou ter sido atingido por um rojão em um jogo no Maracanã. O documentário “O Mercado de Notícias”, do cineasta gaúcho Jorge Furtado, mostrou, sem sombra de dúvidas, com vídeos da época, que foram os próprios seguranças de Serra que jogaram a tal bolinha, tudo simetricamente planejado, para ser uma das maiores fraudes eleitorais da nossa história. E, já era, diga-se, com “todos envolvidos”.

O poste vence a eleição e o temor começa a bater na Casa Grande, parece que a Senzala se rebelou de vez, e eles nem mais conseguem manipular as mentes dos brasileiros. Então, preciso intensificar os ataques e isso ocorreu a partir de desde 2012, a criminalização de Lula, Dilma eu seu partido, o Partido dos Trabalhadores, se intensificou na imprensa, especialmente, na Rede Globo, com seu Jornal Nacional. Dilma e o PT eram os responsáveis pela corrupção e a Presidenta a responsável pela “maior crise econômica de todos os tempos”. A Globo, por certo, percebeu que a Operação Lava Jato teria potencial para derrubar o governo, então, começa a flertar com a hipótese de impeachment.

Quando começam as manifestações de junho de 2013, elas são exclusivamente contra o aumento do transporte coletivo, a Globo, logo, por causa de seu DNA, se coloca contra e acusa os manifestantes de baderneiros. Mas no dia seguinte às primeiras manifestações a emissora percebe ali potencial para fazer o governo sangrar. E passa, então, a não só dar apoio a elas, como pautar seus objetivos. Já não era mais pelos 20 centavos, era “por tudo de errado que está aí”. Não era mais uma multidão nas ruas, mas uma massa, completamente manipula, em sua grande maioria, sem uma pauta específica e com todas ao mesmo tempo. E o governo sangrou. A popularidade da Presidenta Dilma caiu vertiginosamente e tudo indicava que era o fim.

Na horda petista começa a se desenhar a tentativa de um plano B à presidenta, a saber, a candidatura do ex-presidente Lula. Porém, pelo menos publicamente, ele negou essa possiblidade e deu apoio total a sua criação política. Veio a Copa do Mundo (apesar do “não vai ter copa”) e ela foi um sucesso, Dilma recupera a popularidade, e chegam às eleições de 2014.

Dilma lidera com boa vantagem, Aécio Neves, o candidato tucano da vez, não empolga, o clima eleitoral começa morno, Eduardo Campos, o neto de Miguel Arraes, que tinha como vice a Marina Silva, que não havia conseguido registrar seu partido, a REDE, a tempo de concorrer, é a terceira via de ocasião, mas também não empolga.

Tudo se encaminhava para uma vitória tranquila da petista, talvez ainda no primeiro turno, quando outro “acidente” de avião entre nessa história, não seria o último, o pernambucano candidato do PSB, Eduardo Campos, morre na manhã da quarta-feira, 13 de junho de 2014, o dia seguinte à sua entrevista no JN, após a queda do jato particular em que viajava em um bairro residencial em Santos, no litoral paulista.

A morte de Eduardo Campos e a ascensão da vice, Marina silva, à cabeça de chapa, tendo o gaúcho Beto Albuquerque como candidato à vice, botou fogo na campanha. Marina segurou, literalmente, na alça do caixão, pousou para fotos, parecia a viúva. A imprensa soube aproveitar, ou melhor, gerar o clima de consternação. O desconhecido Eduardo Campos, que nunca chegou a 10% dos votos, foi alçado à condição de herói tombado. Nas redes sociais apareceram “teorias da conspiração” que acusavam os petistas pelo acidente. Marina se prepara para ser presidente. O lema era “não vamos desistir do Brasil”, frase dita pelo candidato na sua última entrevista.

O crescimento de Marina Silva foi vertiginoso, a candidata da REDE, usando como casa oficial o PSB, ultrapassa Aécio Neves, e ameaça a presidenta Dilma, nas intenções de votos. Algumas vozes chegam a pedir a renúncia do tucano e seu apoio à candidata do PSB. Aécio se nega a fazê-lo.

Contudo as incoerências e o discurso dúbio da candidata Marina Silva, que já haviam prejudicado sua campanha, em 2010, e o fato de se tornar alvo dos ataques das outras duas campanhas, a saber, do PT e do PSDB, derrubaram o castelo de cartas de Marina. Ela não se sustenta na corrida eleitoral. Aécio Neves recupera o fôlego e ultrapassa Marina. O tucano faz uma votação extraordinária no primeiro turno, apesar de ter ficado em segundo lugar. A tendência de crescimento dele e a perda de gordura da petista eram evidentes. O segundo turno começa com vantagem do neto de Tancredo.
Acuada a campanha de Dilma começa o segundo tuno no ataque, os debates são eletrizantes, Dilma encurrala o tucano e se sai melhor na maioria dos confrontos, principalmente depois do primeiro enfrentamento, entre os dois, o sempre protegido pela imprensa, Aécio Neves, é vítima tanto do seu passado nebuloso quanto de sua arrogante falta de conteúdo. Dilma se recupera e vence as eleições por uma margem mínima de votos.

É histórica a fotografia que mostra a decepção do tucano quando se oficializa a vitória da petista. A partir dai fica cristalizada uma certeza na Casa Grande, a saber, era preciso exterminar o petismo, nas urnas, depois de quatro derrotas consecutivas, seria impossível, a única alternativa possível era o golpe, dana-se o “pacto democrático estabelecido na Constituição de 1988 – de respeito à soberania do voto, para resumir – o tucano deste o primeiro momento não aceitou o resultado eleitoral, não fazendo o tradicional telefonema à eleita”.

A guerra travada pelos setores conservadores, a saber, a mídia, o judiciário, a bancada religiosa e o legislativo, esse encabeçado pelo Eduardo Cunha, travou o governo, piorou a crise e jogou o país no caos político e econômico. A promessa do tucano de fazer o governo sangrar até o fim se concretiza. Dilma perde o apoio no Congresso. Para tentar salvar o governo, adota, em muitos pontos, o plano econômico dos tucanos. E com isso os movimentos sociais, que haviam se aproximado para garantir a vitória eleitoral se afastam e o governo fica isolado. Não se sabia, mas nesta hora tudo já estava tramado.

Depois de consumado o golpe, já em 2016, áudios do então ministro Romero Jucá, divulgados pelo jornal Folha de S. Paulo, escancaravam os motivos da derrubada da Presidenta. “Tem que ter impeachment. É a única saída”, afirmou Jucá. Em outro trecho, ele afirma, “Conversei ontem com uns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de… sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’”. O interlocutor de Romero Jucá neste diálogo, nada republicano, o empresário Sergio Machado, então, diz “rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]… É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional, sugere Machado”, o objetivo segundo eles, era “estancar a sangria”, isto é, parar a Lava jato, que antes serviu para derrubar o governo petista, mas que, agora, era vista como um perigo aos interesses do golpe. Romero Jucá confirma o acordão e, ainda, diz “Com o Supremo, com tudo”.

O medo, então, era que a Lava jato resolvesse “pegar” toda a classe política e não somente o PT como parecia ser o objetivo inicial da operação. O que teria mudado nos planos da investigação. Tenho uma teoria, antes do golpe, a Lava Jato e seus atores, era “parte do todo mundo”, estavam no esquema golpista. Porém, com a chantagem de Cunha e a decisão política já tomada, era necessário limitar as investigações. Os protagonistas da Lava Jato sentiram que poderiam ser alijados e cair no ostracismo voltaram suas baterias para aqueles que formariam o governo do Temer.

Ainda antes de o golpe ser consumado ficavam evidentes os papéis de cada dos seus atores, não se tratava, apenas de derrubar a Dilma, mas de inviabilizar o petismo. Infelizmente, setores da esquerda, em especial membros do PSOL, custaram a perceber que era preciso combater o golpe. Talvez imaginando que pudessem herdar os espólios petistas. Enquanto isso o governo agonizava.

Numa última tentativa de salvar o governo Dilma convoca o ex-presidente Lula para o ministério da Casa Civil era a tentativa de recompor o diálogo político com o congresso. Na outra ponta, reconciliados com o governo os movimentos foram às ruas. A nomeação de Lula foi contestada. Moro “deixa” escapar áudios de conversas gravadas do ex-presidente, à época já era escancarada a tabelinha entre imprensa e a Lava Jato. Até uma conversa íntima da Primeira Dama Leticia com o filho foi divulgada. Nela a esposa de Lula, mandava os “batedores de panela”, um dos símbolos dos protestos contra o governo, enfiarem as panelas… no “bolso”.

De forma estarrecedora se soube que Moro gravava à Presidência da República, que em qualquer país, democraticamente sério, não se trata de uma pessoa, mas de uma instituição. Mas a situação era ainda mais ultrajante, Moro divulga uma conversa, entre Lula e Dilma, ela é acusada de manipula a nomeação dele, era a gasolina que faltava. A acusação era que o governo queria dar ao ex-presidente foro privilegiado. Naquele momento, já havia ocorrido a tenebrosa sexta-feira, 4 de março, e a “criminosa” condução coercitiva do Lula, um espetáculo midiático, na Operação Alethéia (24ª fase da Lava Jato), Moro, cinicamente, diria depois que a iniciativa foi para proteger o ex-presidente.

Detalhe o áudio foi gravado quando já estava extinta a autorização judicial, portanto, era ilegal. Moro pediu desculpas. No julgamento do recurso de Lula, o relator diria que situações extremas pedem medidas extremas.

Dilma, a primeira mulher a ser eleita à presidência, foi derrubada sem ter cometido nenhum crime. As tais pedaladas fiscais foram uma invenção desavergonhada num golpe que a muito já havia perdido os escrúpulos. Eduardo Cunha chantageou publicamente a presidenta oferecendo apoio em troca de ser defendido pelos petistas. O Golpe foi planejado, orquestrado e estava em pleno andamento, não tinha mais volta.

O triste espetáculo da votação na Câmara do pedido de impedimento da Presidente da República foi a cara do golpe, sendo comandada, pelo agora presidiário (SIC) Eduardo Cunha. A Globo transmitiu ao vivo e o que se viu foi um show de horrores. Políticos acusados de corrupção votavam em nome do Brasil e da ética, alguns foram presos depois, muitos processados, mas derrubaram uma presidenta sem crime. Foi também a noite das traições.

Imagino a dor que a Presidenta Dilma tenha sentido naqueles dias, não somente pela injustiça sofrida, mas por ver seu processo ser conduzido por um criminoso. Em 13 de outubro, de 2016, no 12º Congresso da CUT, a Presidenta questionaria “pergunto, com toda a franqueza: quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra? Quem?” Poucos, naquele fatídico dia 17 de abril, Cunha, certamente não. Mas naquele momento muito pouca coisa importava os “moralistas sem moral”, como a Presidenta sentenciou seus algozes.

Ao imaginar a dor da desta mulher, tenho por ela a mais profunda admiração. Posso dizer que a admiração que nutro por Dilma é a mesma que tenho por minha mãe, outra mulher de fibra e coragem. Desculpem essa confissão pública de profundo louvor por quem faz da vida uma luta. A presidenta disse no Congresso da CUT que “eu lutei a minha vida inteira pela liberdade e vou continuar lutando. E agora tenho ido à luta mais uma vez, e irei quantas forem necessárias”. Essas palavras da legítima presidenta deste país tem que nos servir de alento nesses dias tenebrosos e nos próximos que virão.

O golpe é um processo, que está em curso, o governo Temer cumpriu, apesar de ele estar caindo de podre, importantes etapas no planejamento golpista atacando a soberania nacional, com uma política entreguista e colocando fim ao estado social. A reforma trabalhista foi uma das principais tacadas, e será responsável pela escravização dos trabalhadores.

Acredito como havia dito anteriormente, que o objetivo agora do golpismo é gerar um caos social, e para isso uma convulsão social, ainda que mínima causada pela possível prisão de Lula seria bem-vinda, neste caso daria discurso para uma intervenção, que prolongariam os atuais mandatos até 2020. Penso que, neste caso, a solução não seria Temer, ele já não teria mais condições políticas de conduzir a nau golpista, sendo assim, basta puxar um dos muitos processos derrubar o Temer, entregar o governo ao Presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Que seria o comandante do país ao mais completo neoliberalismo possível.

A alternativa, já circula por Brasília, a saber, a ideia do semiparlamentarismo, sem consulta popular, uma ideia de ninguém menos, que Gilmar Mendes. Neste caso, Temer poderia terminar o mandato como presidente, como prêmio pelos serviços prestados, mas quem mandaria mesmo era o Congresso, que elegeria um primeiro ministro confiável ao mercado. Quem sabe o Ministro da Fazenda Henrique Meirelles. (O nome do ministro é de minha responsabilidade.)

Neste cenário, o que resta a esquerda, ou melhor, as esquerdas? A criação de uma frente ampla de discussão de um projeto de país e de resistência permanente ao golpe penso eu, seria uma boa resposta, na verdade, essas frentes já coexistem na Frente Brasil Popular e na Frente Povo Sem Medo. A organização e a resistência já vêm sendo realizada, porém, talvez precise, agora, ser mais sistêmica. Defender o Lula, neste momento, é radicalmente necessário para defender a democracia. Mas só isso não basta. Se tiver as eleições, elas seriam livres suficientemente para que se possa confiar no seu resultado? Se todos eles, que participaram do golpe, serão os comandantes do pleito eleitoral, o que nos garantiria sua honestidade, agora?

As esquerdas, os movimentos sociais e as pessoas progressistas de todos os partidos e/ou sem partidos, precisam dar uma resposta firma ao golpe, precisam tomar as rédeas e fazer a disputa política. Não tenho certeza se as forças progressistas e as esquerdas, em geral, já entenderam a complexidade desse golpe. Não é o Lula o alvo, é a possibilidade da retomada do governo, pelo centro-esquerda e/ou à esquerda, parece óbvio, mas é preciso que se diga o óbvio. Se Lula tivesse no patamar das intenções de votos dos tucanos, por exemplo, nada disso aconteceria. Não se trata mais nem de defesa da democracia, na verdade essa já deixou de vigorar. O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, definiu bem o atual quadro, segundo ele, “o desembargador Victor Luiz dos Santos Laus proferiu o voto mais consequente e transparente da histórica sessão, quando disse: ‘aqui não interessa o jurídico’. O roteiro cumprido no julgamento vem consolidar, de forma coerente, a “torção” do Estado de Direito Democrático no Brasil, em direção à consolidação da ‘exceção’”.

Portanto, não basta, para eles, tirar o Lula das eleições, mas, sim, exterminar a imagem do ex-presidente, impossibilitando que ele escolha um herdeiro, que ungido por sua popularidade, ganhe musculatura suficiente para vencer as eleições, se eles existirem. Ou eles conseguem impedir isso ou não teremos eleições. Portanto, companheiro, lutar é uma questão de sobrevivência, não só do Lula, mas de todos nós e, principalmente, do estado social e da soberania nacional.

Ao fim e ao cabo, tomo como bandeira as palavras de Pepe Mujica “esta democracia não é perfeita porque nós não somos perfeitos. Mas, temos de defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la”. Obrigado, Don Pepe

* Professor Ensino Fundamental e Médio; Licenciado em História e Especialista em Rio Grande do Sul pela FURG; Mestre em Ensino de História (PROFHISTÓRIA). e Graduando em Filosofia pela UFPel.

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