O que pensa a tecnocracia tucana?
Subir na vida e ser inserido no mercado de trabalho e consumo foi uma conquista única para milhões de brasileiros nos últimos doze anos. Algo nunca ocorrido na história de nosso país nesta dimensão. Direitos sociais e trabalhistas foram consolidados. A ampliação da democracia é outra marca. Um mercado interno de massas tem sido construído e deve ser expandido. O sentido das mudanças e do futuro em um segundo mandato de Dilma Rousseff indicam o aprofundamento de rumos.
Por Elias Jabbour[*]
E o outro lado da história? O que a oposição quer de fato? O que pensam do Brasil e seu papel no mundo e na América do Sul? Acham possível controlar a inflação com baixíssimo índice de desemprego e tendência de alta na taxa de investimentos? Acreditam numa verdadeira liberdade de imprensa? Apoiariam a inserção ao processo político de movimentos sociais organizados sem apelar à violência policial?
A oposição, no governo federal e nos Estados em que governam, não apresenta nada de novo. Evidente, que Aécio Neves não pode vir a público e criticar a atual política de reajuste de salário mínimo, nem tampouco os investimentos em andamento em infraestruturas. Esse tipo de “serviço sujo” quem faz são seus assessores mais próximos, incluindo o ex-presidente de Banco Central, Armínio Fraga. O candidato do sistema financeiro tem seus compromissos. Afinal não seria fácil colocar, de vez, a inflação no centro da meta sem uma política drástica de juros altos e uma espécie de âncora cambial e um governo de interesse de, no máximo, 30% da população. Não existe mágica em economia: arrochar uma demanda em expansão é a formula fácil que os discursos “técnicos”, ao final, escondem.
A democracia não seria fortalecida com uma reforma política de cunho democrático. Ao contrário, o autoritarismo seguiria o rumo do sistema eleitoral norte-americano onde basicamente duas forças políticas disputam o rumo do país sob o acicate de uma mídia envolvida até o último fio de cabelo com os interesses dos detentores dos títulos da dívida pública. Seria isso um exagero? Evidente que não. É assim o que eles pensam e querem fazer, pois tentaram fazer isso no governo federal. Em essência, para a tecnocracia tucana, democracia e mercado são sinônimos. Afinal, só os mais fortes podem sobreviver, seja na democracia, seja no mercado!
Temos de respeitar a opinião alheia. Claro. Mas essa oposição precisa ter coragem de dizer o que pensa e o que quer, de fato. Precisam explicar direito a visão de país que desejam. É óbvio que a tecnocracia tucana não acredita na construção de um país onde a riqueza é puxada pela indústria. A palavra que eles mais gostam de dizer é “liberalização” e o termo “choque de produtividade” como ideia-força. O que esse vocabulário deixa subtendido? Uma noção dependente de país, um país que vai – na visão deles – crescer ou não de acordo com os ventos da lei de oferta e procura inertes ao cenário internacional. “Cresceremos” quando dermos as garantias institucionais ao capital estrangeiro, quando criarmos um clima propício aos “negócios” e tirarmos o peso do Estado em assuntos que o “mercado” deve dar a carta final. Em que lugar do mundo isso ocorreu de forma tão fidedigna? Nem eles sabem. É pura visão ideológica.
Por fim, seria possível uma volta atrás desta natureza após doze anos de avanços e conquistas, ainda que limitadas? Seria provável isso tudo vir a acontecer sem uma boa dose de autoritarismo? Não há dúvida de que poderíamos adentrar numa época de recrudescimento autoritário. Ultraliberalismo e autoritarismo/intolerância políticas são irmãs siamesas. A grande política ideológica e os rumos estratégicos são instrumentos geridos por uma tecnocracia pautada numa mistura de Friedrich Hayek e Milton Friedman. O resto, literalmente o resto, fica a cargo da polícia.
Por Elias Jabbour[*]
E o outro lado da história? O que a oposição quer de fato? O que pensam do Brasil e seu papel no mundo e na América do Sul? Acham possível controlar a inflação com baixíssimo índice de desemprego e tendência de alta na taxa de investimentos? Acreditam numa verdadeira liberdade de imprensa? Apoiariam a inserção ao processo político de movimentos sociais organizados sem apelar à violência policial?
A oposição, no governo federal e nos Estados em que governam, não apresenta nada de novo. Evidente, que Aécio Neves não pode vir a público e criticar a atual política de reajuste de salário mínimo, nem tampouco os investimentos em andamento em infraestruturas. Esse tipo de “serviço sujo” quem faz são seus assessores mais próximos, incluindo o ex-presidente de Banco Central, Armínio Fraga. O candidato do sistema financeiro tem seus compromissos. Afinal não seria fácil colocar, de vez, a inflação no centro da meta sem uma política drástica de juros altos e uma espécie de âncora cambial e um governo de interesse de, no máximo, 30% da população. Não existe mágica em economia: arrochar uma demanda em expansão é a formula fácil que os discursos “técnicos”, ao final, escondem.
A democracia não seria fortalecida com uma reforma política de cunho democrático. Ao contrário, o autoritarismo seguiria o rumo do sistema eleitoral norte-americano onde basicamente duas forças políticas disputam o rumo do país sob o acicate de uma mídia envolvida até o último fio de cabelo com os interesses dos detentores dos títulos da dívida pública. Seria isso um exagero? Evidente que não. É assim o que eles pensam e querem fazer, pois tentaram fazer isso no governo federal. Em essência, para a tecnocracia tucana, democracia e mercado são sinônimos. Afinal, só os mais fortes podem sobreviver, seja na democracia, seja no mercado!
Temos de respeitar a opinião alheia. Claro. Mas essa oposição precisa ter coragem de dizer o que pensa e o que quer, de fato. Precisam explicar direito a visão de país que desejam. É óbvio que a tecnocracia tucana não acredita na construção de um país onde a riqueza é puxada pela indústria. A palavra que eles mais gostam de dizer é “liberalização” e o termo “choque de produtividade” como ideia-força. O que esse vocabulário deixa subtendido? Uma noção dependente de país, um país que vai – na visão deles – crescer ou não de acordo com os ventos da lei de oferta e procura inertes ao cenário internacional. “Cresceremos” quando dermos as garantias institucionais ao capital estrangeiro, quando criarmos um clima propício aos “negócios” e tirarmos o peso do Estado em assuntos que o “mercado” deve dar a carta final. Em que lugar do mundo isso ocorreu de forma tão fidedigna? Nem eles sabem. É pura visão ideológica.
Por fim, seria possível uma volta atrás desta natureza após doze anos de avanços e conquistas, ainda que limitadas? Seria provável isso tudo vir a acontecer sem uma boa dose de autoritarismo? Não há dúvida de que poderíamos adentrar numa época de recrudescimento autoritário. Ultraliberalismo e autoritarismo/intolerância políticas são irmãs siamesas. A grande política ideológica e os rumos estratégicos são instrumentos geridos por uma tecnocracia pautada numa mistura de Friedrich Hayek e Milton Friedman. O resto, literalmente o resto, fica a cargo da polícia.
*Doutor e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP. Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Membro do Comitê Central do PCdoB.
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