Aldo Rebelo: A Copa é pretexto
No dia das “manifestações contra as injustiças da Copa”, a maior
reunião de massas ocorreu em Macapá: nesta cidade de 370 mil habitantes,
20 mil pessoas fizeram fila para admirar a taça da Fifa exposta no
Monumento do Marco Zero. Em contrapartida, os atos públicos da
quinta-feira (15) realizados em sete grandes capitais, entre as mais
populosas do Brasil, reuniram, nas contas de um jornal, 21 mil
manifestantes.
A Copa tem sido um valor de protesto agregado, mas não é o vetor das
manifestações. Na cidade de São Paulo, com 11 milhões de habitantes, o
conjunto de atos públicos reuniu 15,7 mil pessoas, das quais oito mil
eram professores desfilando reivindicações trabalhistas.
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto mobilizou menos de dois mil
manifestantes, e suas demandas, apesar de inseridas na “Campanha Copa
Sem Povo, Tô na Rua de Novo”, foram controle de aluguéis, mudanças no
Programa Minha Casa, Minha Vida e “política federal de prevenção de
despejos forçados”.
Tudo vai de cambulhada como “atos contra a Copa”, mas salta aos olhos
que as críticas ao Mundial da Fifa são minoria. Infelizmente, tal
observação fica prejudicada porque as manifestações também incorporam
hostilidade à certa imprensa. As principais redes de TV não nos deixam
ver pormenores, pois registram as passeatas de helicóptero para evitar
que suas equipes sejam agredidas nas ruas.
A grande visibilidade vai para a cantilena político-partidária de
grupos que se opõem ao governo. Seus argumentos economicistas, de que
ocorre desperdício de verbas públicas, não se sustentam. Não se faz Copa
do Mundo para ganhar dinheiro, e sim pela festa que encerra e a
projeção geopolítica que proporciona, mas é fato que um megaevento desse
porte se paga e dá lucro.
Ao final, os bilhões de reais injetados na sociedade irão, por
ironia, ajudar a saldar as seculares dívidas sociais que levam
manifestantes às ruas.
*Aldo Rebelo é ministro do Esporte.
Comentários
Postar um comentário
Comentários