“Alternativas” políticas à polarização PT x PSDB
Por
Zedotoko Costa[*]
Intervenção Comunista |
Começam
a surgir possíveis contradições que poderão abalar a polarização
PtxPSDB
e não é um acaso que as forças que se apresentam sejam também
expressão do ciclo reformista: o PSB
do
socialista Miguel Arraes e a “onda verde” da ex-petista Marina
Silva.
Uma
dinastia do Pernambuco
Eduardo
Campos, 47 anos, é o principal herdeiro político de seu avô Miguel
Arraes, ex-governador de Pernambuco por três mandatos. Filho de Ana
Arraes, ex-deputada federal e atual ministra do TCU,
com o escritor Maximiniano Campos, falecido em 1998, Campos é
formado em Economia pela UFPE,
tendo começado sua atividade política no Diretório Acadêmico da
faculdade. No ano seguinte, foi chamado pelo avô a ser o chefe de
gabinete do governo, com apenas 21 anos.
Em
1990 filiou-se ao PSB,
foi eleito deputado estadual, quatro anos depois foi eleito deputado
federal. Em 95, assumiu a Secretaria da Fazenda. Reelegeu-se deputado
federal ainda por mais dois mandatos, foi chamado por Lula para o
Ministério da Ciência e Tecnologia (2004-2005), saindo para
disputar o governo de Pernambuco, ao qual foi reconduzido na última
eleição, acompanhado de seu vice-governador, o empresário de setor
de transportes, João Lyra Neto, que está em vias de
sair do PDT
para retornar ao PSB.
Campos
preside atualmente o partido, representando o principal grupo
político interno, que rivaliza com os Ferreira Gomes sobre o caminho
a trilhar em 2014. Tanto Ciro como Cid Gomes, governador do Ceará
estão mais alinhados com a coalizão petista. Segundo “O
Globo”
(26/02) “setores
do governo e do PT apostam na estratégia de azedar a relação dos
irmãos Ciro e Cid com Campos, a ponto de forçar a saída deles do
PSB”.
Uma
espécie de “tecnolítico”
Campos
está surfando a onda da emergência do Nordeste como região
dinâmica, com ritmos elevados de crescimento. Segundo publicou o
“Valor Econômico” (07/01), ouvindo a opinião de empresários
que estão investindo na região e gostam do estilo do governador,
Campos é uma espécie de “tecnolítico”,
[…] uma mistura bem resolvida de executivo agressivo e político
habilidoso”. A opinião do “presidente de uma companhia que está
investindo centenas de milhões de reais em Pernambuco” é de que
“ele consegue criar um ambiente de negócios como nenhum outro
político, porque tem um entendimento claro do cenário […].
'Agressivo'
é a definição preferida dos empresários que avaliam o
governador”.
Por
isso, muitos empresários o têm procurado para que leve adiante a
perspectiva de se candidatar em 2014. Se é verdade
que uma parte significativa dos investimentos pesados que estão
sendo feitos no seu estado teve influência da gestão petista, ao
mesmo tempo Campos aproveitou para estreitar laços cada vez mais
sólidos com o empresariado.
Contatos
com os “donos do PIB”
Para
o “Globo”,
“ o desempenho da economia em 2013 e o seu reflexo sobre o
prestígio da Dilma vão ser decisivos para uma guinada do
pernambucano rumo ao Planalto”.
Indo
nessa direção, a “Folha”(17/03/13)
reportou que ele tem feito contato com
os “donos
do PIB”,
tem buscado principalmente apoio dos empresários do Sul e do
Sudeste. “O assédio a ele se avolumou após as eleições
municipais, quando o bom desempenho de seu PSB o credenciou a
encarnar uma 'terceira via' […]. Setúbal
foi um dos banqueiros que procurou Campos após as eleições
municipais. […] Marcelo Odebrecht, da empreiteira que leva seu
sobrenome, tem laços com todos os lados. Próximo a Aécio, o
empresário tem se aproximado também de Campos, e celebrado diversos
contratos para obras no Estado”.
O
governador de Pernambuco andou conversando ainda a cúpula do Banco
Santander e tem mantido contato com Jorge Gerdau e Sérgio de
Andrade, da Andrade Gutierrez. No início do mês de março, um
jantar foi oferecido por Flávio Rocha, dono da rede de lojas
Riachuelo, para apresentar Campos aos líderes varejistas.
Além
disso, Campos tem flertado com vários partidos, tal como PDT,
se aproximando do deputado federal Paulinho de Força (SP) – também
presidente da Força Sindical – e de sindicalistas do Sul e
Sudeste. O colunista do “Globo”,
Ilmar Franco, relatou também encontro de Campos com o presidente
licenciado do PTB, Roberto Jefferson, que teria dito que a porta está
“aberta”
para uma eventual composição com o PTB
em 2014
.
Contudo,
o neto de Arraes joga o jogo da ambiguidade calculada. Ataca o
governo federal na sutileza de quem faz parte da coalizão
governista, procurando já criar uma marca de diferenciação, mas
sem atingir um ponto de ruptura, dada a incerteza de conseguir reunir
forças para 2014. De qualquer forma, consciente de que acumula
forças para 2018.
Do
Partido Verde à Rede Sustentabilidade
Marina
Silva, 53 anos é oriunda de família pobre, filha de seringueiro,
foi tardiamente alfabetizada, com 16 anos. Formou-se em História
pela Universidade Federal do Acre.
Já
professora do Ensino Médio, engaja-se no movimento sindical, sendo
uma das fundadoras da CUT
do Acre. Em 1986, filiou-se, ao PT,
na então corrente de José Genoino, o PRC
(Partido
Revolucionário Comunista). Foi vereadora, deputada estadual, e
senadora por dois mandatos, além de ministra do meio Ambiente por 7
anos, no governo de Lula.
Desligou-se
do PT
para disputar a presidência pelo Partido Verde, com a justificativa
da ética e do desenvolvimento sustentável. Posteriormente, segundo
a revista “Carta Capital”, a saída do PV
foi devido às discordâncias com o presidente do partido Jose Luiz
Penna, que não teria dado muito espaço ao seu grupo.
Com
o capital de quase 20 milhões de votos, nas eleições de 2010,
Marina se engaja na fundação da Rede Sustentabilidade, com
o demagógico discurso da “sustentabilidade e de uma nova forma de
fazer política”.
Migrações
políticas
O
colunista do “Valor
Econômico”
(06/02/13), Cristian Klein, nos apresenta os homens que formam a
“linha de frente do partido de Marina”.
“A
maioria dos coordenadores nos Estados já está definida”. “Muitos
oriundos do PT
e do PV,
mais alguns do PSOL, como a ex-senadora e hoje vereadora de Maceió,
Heloísa Helena, e de outras siglas como PDT e PPS, mas em menor
proporção”.
Soma-se
a eles os oriundos do Movimento por uma Nova Política, além de
políticos sem mandato, como é o caso do ex-deputado federal do PV
Jose Aparecido de Oliveira, atual PPS, que em 2010 não concorreu à
releição à Câmara para se candidatar ao governo do Estado em
Minas Gerais para criar palanque para campanha presidencial de
Marina.
No
Paraná, a responsável pela articulação é a ex-deputada federal
pelo PT
Dra Clair, também ex-PV.
No Amazonas, Marcus Barros é o responsável por encabeçar a
organização do novo partido, foi presidente do IBAMA
durante a gestão de Marina no Ministério do Meio Ambiente.
Um
dos responsáveis pelo Movimento por uma Nova Política no Espírito
Santo é o diretor-presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito
Santo (BANDES),
João Guarino Balestrassi, ex-prefeito de Colatina, membro do PSB,
foi colocado pelo ex-governador Paulo Hartung para presidir a
instituição.
Em
Pernambuco, Marina conta
com Sérgio Xavier, um dos fundadores do PV
nacional e estadual. Atual secretário de Estado de Meio Ambiente e
candidato a governador em 2010. Ainda há no Estado um “petista de
origem entre os coordenadores: o ex-deputado estadual Roberto
Leandro, que ainda consta como integrante da Executiva do PV
pernambucano”.
O
novo que nasce velho
E
Goiás, a Rede fragiliza o PSOL.
O articulador do novo partido é o presidente do diretório estadual,
Martiniano Cavalcante, também membro da Executiva Nacional. “Em
outubro, Cavalcante foi afastado pelo PSOL
por ter tomado dinheiro emprestado do bicheiro Carlos Cachoeira […].
Em dezembro, no entanto, a direção do PSOL
reintegrou o dirigente às funções partidárias […]. “
Cavalcante é do mesmo grupo do vereador pelo PSOL
de Goiânia
Elias Vaz de Andrade, ex-presidente do partido da cidade, que foi
pego em gravações telefônicas comprometedoras com Cachoeira, e
também deverá migrar para o RS.
A
revista “Carta
Capital”
(20/02/13) confirma que cinco deputados federais teriam se
comprometido a migrar para o novo partido: Alfredo Sirkis (PV-RJ),
Domingos Dutra (PT-MA),
José Antônio Reguffe (PDT-DF)
e os tucanos de São Paulo Walter Feldman e Ricardo Trípoli. Além
deles, figuras expressivas como Guilherme Leal, um dos donos da
NATURA,
que foi candidato a vice na chapa de 2010, e Maria Alice Setúbal,
“herdeira do banco itaú”.
O
futuro 31º partido do Brasil, Rede Sustentabilidade, que se propõe
portador de uma nova forma de fazer política, nasce tão velho
quanto os homens que encabeçam sua fundação.
A
política burguesa da nova potência imperialista brasileira é a
política reformista do grande capital. Apenas a política comunista
não se ilude com o mito da democracia. A política comunista difunde
cotidianamente o internacionalismo proletário e luta pela
construção do instrumento que pode operá-lo: o partido leninista.
*
Colaborador
Redação
Intervenção Comunista/Círculo Operário.
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