A essência do Poder Político
Círculo Operário |
“O
que fiz de novo foi demonstrar: 1) que a existência de classes está
ligada apenas a determinadas fases históricas do desenvolvimento da
produção; 2) que a luta de classes leva necessariamente, à
ditadura do proletariado; 3) que esta ditadura em si mesma apenas
constitui a transição para a abolição de todas as classes e para
uma sociedade sem classes”, escreve Marx numa carta a Weydemeyer,
em 5 de março de 1852.
Ao
comentá-la em O Estado e a revolução, na véspera do Outubro,
Lenin diz que “Marx conseguiu
exprimir nessas linhas, com surpreendente relevo, o que distingue
radicalmente a sua doutrina da dos pensadores mais avançados e mais
profundos da burguesia e o que torna fundamental na questão do
Estado”.
Por Zedotoko Costa[*]
E
assim continua: “ A
doutrina da luta de classes foi concebida não por Marx, mas pela
burguesia antes de Marx, e, de maneira geral, é aceitável para
burguesia. Quem só reconhece a luta de classes não é ainda
marxista e pode muito bem não sair dos quadros do pensamento burguês
e da política burguesa. Limitar o marxismo à luta de classes é
truncá-lo, reduzi-lo ao que é aceitável para burguesia. Só é
marxista aquele que estende o reconhecimento da luta de classes ao
reconhecimento da ditadura do proletariado. A diferença mais
profunda entre o marxista e o pequeno (grande) burguês ordinário
está aí. É sobre essa pedra de toque que é preciso experimentar a
compreensão efetiva do marxismo e a adesão ao marxismo”.
Sobre
esta pedra de toque se confrontando hoje, assim como ontem, o
movimento proletário revolucionário. Em algum momento, a questão
teórica torna-se sempre uma questão prática. A doutrina do Estado
vira atitude prática para com o Estado. Essa não é uma disputa
doutrinal, é uma prática que vê os oportunistas,
pequeno-burgueses, a serviço do Estado capitalista e os marxistas
contra este Estado e contra todos os seus defensores.
Os
ideólogos do oportunismo alegam que não há uma teoria marxista do
Estado. Não é verdade. Ela existe e é tão definida que determina
a mais profunda diferença em relação às teorias burguesas.
Alguns
desses ideólogos tentam, em vão, separar Lênin de Marx
relativamente à questão do Estado. É uma operação vulgar e
grosseira. O ataque ao leninismo é, na verdade, um ataque ao
marxismo. Lênin não foi mais que o fiel e coerente seguidor da
doutrina marxista do Estado. O
Estado e a revolução
não é filho do atraso asiático, mas o fruto mais maduro de toda
evolução social no Ocidente, da qual Marx descobriu a lei de
movimento e a necessidade histórica. Em O
capital
há o fundamento da teoria marxista do Estado. Marx diz que a luta de
classes leva “necessariamente”
à ditadura do proletariado.
“Necessariamente”
significa que não há alternativa. Ditadura da burguesia ou ditadura
do proletariado. Se, como argumenta Marx na Miséria
da filosofia,
“o
poder político é precisamente o resumo oficial do antagonismo
existente na sociedade civil”,
em
última instância, na luta de classes é que se determina
necessariamente a relação de forças políticas, a potência de
uma de uma classe. Ditadura é potência, e quanto mais uma classe é
forte em relação à classe subordinada, mais exerce a sua ditadura,
ou seja, a sua potência. Antes de analisar as suas formas, o poder
político deve ser analisado em sua substância, enquanto expressão
do antagonismo social. As formas são diferenciadas, mas única e
típica é a substância do poder
político
que, como tal, pode ser medido e analisado cientificamente, porque
pode ser referido ao exame objetivo da relação de força.
Obviamente,
as formas do poder político são um obstáculo para análise da
relação objetiva de força, mas não a tornam impossível. Elas são
variações e distúrbios do fenômeno do poder político em estado
puro, assim como ocorre com as variações e flutuações dos preços
para a lei do valor. Mas da mesma forma que a soma dos preços é a
soma dos valores, a soma do poder político é a soma das forças
sociais. Podemos retornar a fórmula de Lênin em sua teoria das
relações internacionais segundo a qual a potência corresponde,
essencialmente, à força econômica.
Se
isso é válido no campo internacional também é para o campo
interno, desde que se leve sempre em conta que a força econômica, e
assim a potência, não é um fenômeno estático, mas dinâmico.
Consequentemente, se mudam continuamente as forças econômicas,
mudam
ainda mais as potências e as relações de força entre elas. A
necessidade de analisar constantemente as formas do poder político,
que podem ser vistas como expressão da dinâmica das relações de
força, não
elimina a obrigação de manter como pivô da análise o elemento
constante e típico do poder político constituído pela ditadura de
classe.
A
análise das formas é, em suma, a análise das variantes da
tipicidade ditatorial do poder político. As doutrinas burguesas do
Estado não vão além das formas do poder político, a doutrina
marxista descobre o seu conteúdo, e é justamente aqui que ocorre a
transição da ideologia para a ciência. O marxismo é, portanto, a
teoria científica do Estado, poque é a única teoria que descobriu
a substância do poder político e que descreveu sua lei de movimento
gerada pela determinação da superestrutura por parte dos processos
objetivos da estrutura econômica social.
Mas
o marxismo é a ciência que brota numa determinada fase histórica
da luta de classes. É a ciência da revolução proletária, é a
ciência do poder político das classes, é a ciência do antagonismo
entre duas potências sociais fundamentais, é a ciência do
enfrentamento entre as duas ditaduras que a burguesia e o
proletariado expressam simplesmente pelo fato de que seus interesses
vitais são inconciliáveis.
A
ditadura do capital é exercida em diversas formas na medida em que a
relação de forças favorece a classe dominante e detentora dos
meios de produção. Quanto mais forte for esse domínio, mais firme
será o controle dos meios de produção dos meios de produção,
maior social
democratização
do movimento operário, mais democrática a forma do poder político
e maior grau de ditadura do capital. A incessante luta de classes
leva a esse resultado, poque é o capital que leva à frente a sua
luta contra o salário e poque o salário, refreado pela
social-democracia, não consegue exprimir a sua potência social.
Quando a relação de forças se inverte realmente, a luta leva,
necessariamente, à ditadura do proletariado. Esta essência da
doutrina marxista do
poder político que os fatos confirmam todos os dias.
*Colaborador
Fonte: Cervetto, Arrigo. Invólucro Político
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