Adeus Museu/Casa do Índio

O retorno do autoritarismo
 Não é necessário dizer que o Brasil não tem memória, ou qualquer respeito pelo passado e pelos que o construíram. Mas, o descaso que vem sendo praticado no Rio de Janeiro (local sede da Copa do Mundo e a sede da Olímpiadas) é mais do que falta de respeito. É algo programático.

Fábio Py Murta de Almeida[*]

Não é necessário dizer que o Brasil não tem memória, ou qualquer respeito pelo passado e pelos que o construíram. Mas, o descaso que vem sendo praticado no Rio de Janeiro (local sede da Copa do Mundo e a sede da Olímpiadas) é mais do que falta de respeito. É algo programático. É um ato de intolerância, violência de proporções ditatoriais.

Digo isso por que o Complexo do Maracanã, que servia a população da Grande Tijuca e arredores, está sendo quase derrubado. Sem qualquer zona de diálogo e de debate. Por força do Governo Estadual e da Prefeitura, se deliberou que toda a área tomada pelo Estádio de Atletismo Célio de Barros (pista de atletismo nacional), Parque Aquático Júlio de Lamare (ou “Delamare” com três piscinas de competição nos moldes mundiais), Colégio Municipal Friedenreich (colégio padrão da área, referencial de educação) e o Maracanãzinho (esse não será derrubado) que nesses dias estão sendo e serão derrubados.

Será derrubado também o Museu/Casa do Índio que não faz parte diretamente do Complexo do Maracanã, mas que fica nas redondezas, a partir dessa semana, Segunda-feira dia 14.01.2013. Todas essas áreas serão e estão sendo derrubadas para que sejam construídos estacionamentos para o Estádio do Maracanã palco das competições. Só não ocorreu o início da derrubada do Museu/Casa do Índio, pois houve uma série de atos do Governo ditatoriais entre os quais a utilização de uma tropa de choque para retirada das pessoas da área e o próprio pedido de retirada da região sem qualquer expedição da justiça. Só não evacuaram a região por completa falta de preparo governamental.

Nada disso vem sendo noticiado pela mídia hegemônica que justifica mais ainda a retirada dos índios do local deles, pois noticiam que o local vem sendo utilizado por traficantes de drogas e por “cracudos” (como são conhecidos os usuários de crack na região). O que é mais uma mentira para justificar a atrocidade. Para os que não sabem o Museu/Casa do Índio vem sendo ocupado pelos grupos e pessoas descontentes com a politica governamental ligada ao Capital Imperialismo, especialmente ao megaempresário Eike Batista. Entre os descontentes destacam-se o movimento social do FIST (Frente Internacionalista dos Sem-Tetos), o Comitê Popular da Copa, grupos ligados aos Direitos Humanos, quadros do PSOL e do PSTU, advogados com histórico de luta contra a Ditadura Militar na OAB, quadros docentes ligados ao Colégio Municipal Friedenreich, amigos e simpatizantes da Grande Tijuca e alguns Punks-Anarquistas. Aliás, um Punk encapuzado teve uma foto espalhada em rede nacional, ao lado de um Índio. Indicando (falsamente), por isso, o local com o ímpeto de baderna, ligado ao tráfego de drogas.

Por fim, queremos destacar que a antiga área de socialização da Grande Tijuca que é o Complexo do Maracanã, será quase completamente colocada no chão para virar estacionamento das elites mundiais e regionais que aqui virão para os espetáculos da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Atletas e esportes que são praticados pelos moradores da região, e até, por atletas de alta performance estão a partir desses dias sem uma área nuclear de treinos e de tratamentos. Sobretudo, a Copa do Mundo e Olimpíadas não servirão diretamente aos moradores da região, pois fazem parte das politicas públicas urbanas de higienização e de controle social levado pelo governo inflacionam os preços dos imóveis da região, que retiram as favelas dos centros urbanos, e até não permitem a metade do valor das entradas dos eventos dos estudantes e pessoas de idade.

O que estamos vendo passar sobre os olhos são políticas mais discriminatórias que as violências praticadas nos altos da Ditadura Militar. Afinal, estamos sobre o Capital Imperialismo, que não entende que antes de chegar aqui, o território era dos índios. Assim, vejamos, qual será o próximo assalto que ele fará sobre os olhos, mas infelizmente, nossos irmãos índios não estarão mais por perto. Serão jogados para longe pela política de higienização praticada pelo atual governo. 



Ativista, escritor e professor de história da Faculdade Batista do Rio de Janeiro (FABAT).

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