As Novas Formas do Falso Socialismo
Editorial
Lotta Comunista |
Por
Zedotoko Costa[*]
A
ideologia tenta compreender as formas políticas a partir das ideias
da própria política. Para essa concepção subjetivista, O Estado
assume as formas de acordo com as ideias que os políticos que
dirigem o Estado têm dele: é fascista se as ideias são fascistas,
democrático se as ideias são democráticas, totalitário, etc.,
etc. Nesse jogo ideológico sem sentido, nunca há um começo e um
fim. De onde vêm as ideias dos fascistas dos democratas, dos
totalitários? De outras ideias, é claro.
A ciência marxista,
no entanto, descobriu que as ideias são determinadas pelas relações
sociais de produção e que a evolução dessas relações determina
a formação das novas ideias necessárias para orientar novas formas
políticas e a forma do Estado. A concepção subjetivista da
política, negando a determinação econômica, não é sequer capaz
de compreender a forma política, a não ser em seus aspectos
superficiais e secundários. É incapaz de compreender as
características fundamentais porque, faltando-lhe um critério de
comparação com a vida econômica objetiva, não pode estabelecer o
peso real das várias e múltiplas manifestações da política.
Inevitavelmente capta os aspectos mais evidentes do poder político
e, portanto, contingentes e efêmeros.
Não entendendo que o
poder político é a expressão do poder econômico efetivo, tampouco
é capaz de ver como este último se expressa no primeiro. Assim, o
mecanismo real do poder permanece desconhecido e não chega a ser nem
teoricamente objeto de investigação. A ideologia vê apenas os
ponteiros do relógio da vida social, não a mola. É incapaz, além
disso, de identificar suas características específicas, ou seja, os
aspectos que são primários e não secundários, mas que
correspondem à funcionalidade de uma forma de poder político e não
a todas. Dessa forma, enquanto por um lado mergulha na indeterminação
da definição do poder, em abstrato, por outro, nunca consegue
analisar o poder concretamente.
Dessa forma, a
concepção subjetivista da política pode dizer que o marxismo não
tem uma teoria política. Certamente, uma teoria similar o marxismo
não tem nem nunca terá. Uma teoria que não enfrenta por
preconceito – e que por preconceito mascara o interesse – a
verdadeira substância do poder político, é apenas uma propaganda
do poder econômico. As formas do poder político podem mudar, mas
desse modo a substância do poder econômico não mudará nunca.
No
grandioso texto de ciência e de luta do “Anti Dühring”, que
comemora cem anos e é apenas um filhote que aguça os dentes, Engels
descobre a tendência histórica de desenvolvimento do capitalismo de
Estado. A forma política dessa tendência é o “falso
socialismo”:
“Recentemente, desde que Bismarck voltou-se a
estatizar, produziu-se um falso socialismo que, degenerando aqui e
ali em complacência servil, declara socialista desde já toda
estatização”. A
tendência histórica que dá à luz a forma política do “falso
socialismo”
não reside numa ideia, mas no desenvolvimento da economia rumo às
sociedades anônimas e à propriedade estatal. A compreensão dessa
tendência permite abordar a análise das formas políticas da fase
imperialista, das formas políticas dos nossos dias.
Sigamos
Engels: “É essa rebelião das forças de
produção, cada vez mais imponentes, contra a sua qualidade de
capital, essa necessidade cada vez mais imperiosa de que se reconheça
o seu caráter social, que obriga a própria classe capitalista a
considerá-las cada vez mais abertamente como forças produtivas
sociais, na medida em que é possível dentro das relações
capitalistas”.
O desenvolvimento das forças produtivas, a “desmedida
expansão do crédito”,
a quebra de grandes empresas, “estimulam essa
forma de socialização de grandes massas de meios de produção que
encontramos nas diferentes categorias de sociedades anônimas. Alguns
desses meios de produção e de comunicação já são por si tão
gigantescos que excluem, como ocorre com as ferrovias, qualquer outra
forma de exploração capitalista”.
A
sociedade anônima é o primeiro resultado do desenvolvimento das
forças produtivas e da expansão do crédito que o precede. A
propriedade privada dos meios de produção não é mais possível na
relação individual direta. É possível apenas na relação
indireta da cota de capital social. A forma política também
acompanha esse processo objetivo. Mas ao chegar a um determinado
nível de desenvolvimento, “já não basta
tampouco” a
sociedade anônima. “ Os grandes produtores
nacionais de um ramo industrial unem-se para formar um truste, um
consórcio destinado a regular a própria produção; […]
dividem-se entre eles e impõem-se, desse modo, um preço de venda de
antemão fixado.”
Se o desenvolvimento parasse nesse ponto, como teorizado por todos os
partidários do “ capitalismo monopolista” e do “capitalismo
organizado” teríamos também a forma política adequada e
definida. Mas não é assim.
Os
trustes, para Engels, “se desmoronam ao
sobrevirem os primeiros ventos nos negócios”.
Por essa razão, eles impulsionam a “uma
socialização ainda mais concentrada”
“ De um modo ou de outro, com ou sem trustes,
o representante oficial da sociedade capitalista, O Estado, tem que
acabar tomando a seu cargo o comando da produção. A necessidade a
que corresponde essa transformação de certas empresas em
propriedade do Estado começa a manifestar-se nas grandes empresas de
transportes e comunicações, tais como correio, o telégrafo e as
ferrovias”
Essa
concentração na estatização, diz Engels, representa “um
passo adiante para conquista pela sociedade de todas as forças
produtivas”.
Mas o proletariado deve preparar a sua revolução, desde já, contra
a estatização, contra o “falso socialismo”.
E
pode fazer isso porque tem à frente a forma política da tendência
econômica ao capitalismo de Estado. Não pode trocar o efeito pela
causa, pois como Engels adverte, “por sua
parte, o Estado moderno não é tampouco mais que uma organização
criada pela sociedade burguesa para defender as condições
exteriores gerais do modo capitalista de produção contra os
atentados, tanto dos operários como dos capitalistas isolados. O
Estado moderno, qualquer que seja a sua forma, é uma máquina
essencialmente capitalista, é o Estado dos capitalistas, o
capitalista coletivo ideal”.
Exatamente: qualquer que seja a sua forma. Lenin compreendeu isso
também para nós.
*
Colaborador
Fonte:
O INVÓLUCRO POLÍTICO, de Arrigo Cervetto, Edições Intervenção
Comunista/Lotta Comunista
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