Burgues no Subúrbio ?
Por
Gas-PA - Coletivo de Hip Hop LUTARMADA[*]
A
Rede Globo de Televisão nasceu quase junto com a ditadura
civil-militar não por acaso. Ela veio com o propósito de difundir a
propaganda ideológica do regime. Aquela ditadura, como a conhecemos,
se foi, mas a sociedade continua burguesa e, como com toda hegemonia,
ela precisa dominar também pelas idéias. E esse papel a Globo
cumpre como ninguém.
Vários,
mas muitos, são os exemplos em que a sua dramaturgia se coloca a
esse serviço. A cidade do Rio de Janeiro, que sempre foi considerada
a vitrine do país, mais do que nunca vem fazendo jus a esse
"título", visto que ela sediará o maior evento esportivo
do planeta, as olimpíadas, além de jogos da Copa das Confederações
e da Copa do Mundo. E é justamente por conta desses acontecimentos
que a cidade está se remodelando. Está em curso a chamada faxina
étnica, que expulsa do centro e outras áreas valorizadas, pret@s,
retirantes e @s mais pobres no geral.
Além
da forma clássica que conhecemos de remoções – na base da força
– hoje está em voga a chamada "expulsão branca". Esta
consiste na "pacificação" de comunidades do Centro, Zona
Sul e nas proximidades dos equipamentos esportivos onde acontecerão
jogos dos mega eventos. Essa tal pacificação traz a reboque uma
espécie de reurbanização dessas comunidades – mas que visam
atender muito mais os turistas e moradores do asfalto – e ainda, a
regularização de alguns serviços que antes, na maioria das vezes,
eram acessados de forma clandestina. Isso tudo torna muito cara a
vida nessas favelas – transformadas em pontos turísticos – o que
leva muitas famílias a se deslocarem para bairros distantes de seus
locais de trabalho – até em outras cidades – com pouca, ou
nenhuma, infra-estrutura.
E
no momento em que as famílias dessas comunidades, com apoio de
militantes de partidos e movimentos populares, se organizam para
resistir, acontece uma intrigante reviravolta na novela de maior
audiência da Rede Globo, Avenida Brasil. O personagem Cadinho
(Alexandre Borges), empresário muito bem sucedido, se desdobrando
pra ser um bom pai de três famílias, se descuida dos negócios e
acaba falindo. Morador da rica e sofisticada Zona Sul carioca, ele se
vê escorraçado pelas fúteis e consumistas esposas. Buscando a paz
necessária para recomeçar a vida, ele busca abrigo, com amigos, no
Divino, fictício bairro da periferia do Rio. Ao mesmo tempo,
Monalisa (Eloisa Périssé), pra satisfazer os caprichos do filho que
fantasiava viver na Zona Sul, compra um mega apartamento no Leblon.
Desanimada com a frieza, a soberba das pessoas e o alto preço da
vida na Zona Sul, ela já pensa em voltar pro seu antigo bairro, que
na novela, fica próximo à Madureira. Apesar de ambos serem
empresári@s bem sucedid@s, ela é a típica suburbana que emergiu
nos negócios, enquanto ele, o modelo do burguês de Zona Sul. Mas
tanto ele quanto ela dedicaram boa parte de suas ultimas aparições
pra falar das enormes vantagens da vida na periferia. São explícitas
e constantes declarações de amor!
Pronto.
O recado (subliminar) está dado. Apesar da abundância dos meios de
transporte, do comércio (muitas lojas já ficam abertas 24h), de
hospitais, escolas, das maiores oportunidades de emprego e lazer
gratuito (é praia que não acaba mais), a vida no subúrbio é tão
fascinante que é capaz de seduzir até membros da alta sociedade.
Então, por que motivo moradoras e moradores do Santa Marta,
Pavão-Pavãozinho, Chapéu Mangueira, Canta Galo, Tabajaras,
Quilombo do Sacopã... não aceitariam recomeçar suas vidas longe da
fria, cara e tumultuada Zona Sul do Rio?
Se
a principal fonte de informação da maior parte do nosso povo é a
televisão, temos que estar vigilantes e combativos ao conteúdo da
informação que o nosso povo recebe e consome, principalmente as
subliminares que são transmitidas através de "inocentes"
obras de arte, como tele-novelas.
* Diário Liberdade
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