Gigantes da Ásia

Lotta Comunista
A nova geografia social da china

Zedotoko Costa[*]

A China dançou por muitas décadas a dança camponesa-militar ao som do pensamento de Mao Tsé-Tung,que como era inevitável,hoje cai no lixo da história.
Sob o comando de Deng Xiaoping, teve início o ciclo de abertura, que levou à dinâmica do amadurecimento imperialista do Império do Meio. É iniciada uma nova dança: as músicas sociais são welfare pensionista, a despesa pública e o parasitismo dos ritmos incomuns.
Na China falta força de trabalho?
Simon Rabinovitch e Rahul Jacob escrevem no “Financial Times” de 8 de junho que a demanda dos postos de trabalho está superando a oferta.
Para o ministro de Recursos Humanos e Segurança Social, Yin Weimin, diante dos 108 postos de trabalho oferecidos pelas empresas, existem apenas 100 pessoas que procuram trabalho. Para os analistas do “Financial Times”, essa situação é o resultado de uma decisão tomada, ao menos, há 30 anos: diante das perspectivas de um crescimento demográfico incontrolável, o governo impôs por lei a obrigação do “filho único”. A família chinesa foi “modernizada” por decreto. Quando a crise global golpeou pesadamente as exportações chinesas, nos fins de 2008, outros 20 milhões de operários, escreve o “Financial”, perderam seus postos de trabalho, praticamente de um dia ao outro. As preocupações com a instabilidade social impulsionaram o governo a lançar o pacote de medidas de estímulo.
Segundo o “Global Times”, isso não atacou o problema de envelhecimento da população. O problema das pensões se torna cada vez mais espinhoso. O governo da “Cidade Proibida” estaria preparando a revisão da idade para aposentadoria. O jornal recorda que o aumento da idade para a aposentadoria levou a intensos conflitos sociais em diversos Estados europeus. Essa é a estrada que a China se prepara para percorrer? Poderá gerir esse problema “explosivo” sem tropeçar?
O ministro Yin Weimin destacou que se deveria começar a tornar mais flexível a idade para aposentadoria a partir deste último ano. A notícia suscitou fortes clamores.
Aposentadorias chinesas
“Global Times” entende os protestos de quem vê sua idade para se aposentar aumentar ou dos jovens que veem mais dificuldades na possibilidade de substituir os velhos. Mas reforça que na China a população idosa está “cada vez mais sobrecarregada “ : o problema de um “aposentadoria de idade flexível” é inevitável
A expectativa de vida na China chegou já a 73 anos, oito a mais que na índia. Na China, a idade para aposentadoria é uma das mais baixas entre os países com a expectativa sobre os 70 anos. As mulheres se aposentam aos 50 anos se trabalharem na indústria; aos 55 anos se são funcionárias públicas: mas a aposentadoria entrou em vigor só para alguns setores da população na época “maoista” , quando a expectativa de vida era em torno a 50 anos. Agora prossegue o “Global Times”, tudo mudou: a expectativa de vida aumentou e os jovens, com o aumento da escolaridade, demoram mais para começar a trabalhar.
O ministro pergunta se é melhor intervir ou deixar gravar sobre os próprios filhos a dívida pública.
“Global Times” aprova e adverte a China, dada as suas dimensões, não pode copiar os países endividados, o seu welfare deve ser pago pelo seus cidadãos, não há atalhos.
A ilusão sobre a dívida de “tipo ocidental” não é uma estrada percorrível para para a China, embora alguns a apoiem. “Global Times” adverte: a ideia de um “salto adiante “ do welfare sem controle é um salto no obscuro. Se a China entrasse em uma “crise de dívida” , qual seria a “União” de Estados capaz de salvá-la? A introdução da nova lei pensionista ocorrerá sem demasiados contrastes ou confrontos sociais? Fica uma esperança, uma pergunta sem resposta.
A China que muda
“ Novas forças se somam ao baixo-relevo da restruturação social”, escrevia Arrigo Cervetto em abril de 1989, examinando a mudança italiana. É uma, os indicação instrutiva para observar o que se move na China.
A “ economia de mercado socialista” não para de impressionar com as suas mudanças, ainda que o nome não engane mais ninguém. Segundo o National Bureau of Statistcs do governo de Pequim, o número de empresas industrias em propriedade do Estado, com faturamento acima de 5 milhões de yuan (US$ 790 mil) caiu de 64.700 em 1998 para 20.300 em 2010, ou seja, 44.400 unidades a menos. No mesmo período, o percentual de indústrias estatais entre todas as empresas industriais caiu de 39,2% para 4,5%, ou seja, 34,7% pontos. Inversamente as empresas privadas acima dos 5 milhões de yuan cresceram de 10700 para 272.300 e o seu percentual sobre o total de tais empresas passou de 6,5% para 60,3%. Um crescimento enorme, de quase 50 pontos sobre o total de empresas avaliadas.
Sempre considerando as empresas acima dos 5 milhões de yuan os profissionais do setor nas indústrias estatais caíram de 37,5 milhões em 1998 para 18,9 milhões em 2010, e o seu percentual entre os profissionais de todas essas indústrias caiu de 57,2% para 19,2%. Durante o mesmo período, os profissionais da indústria privada saltaram de 1,6 milhão para 33,1 milhões, e o seu percentual sobre o total de indústrias acima dos 5 milhões de yuan passou de 2,5% para 34,7% Em pouco mais de uma década, os profissionais dos setores das empresas não estatais cresceram mais de 30 milhões.
Faltam os dados da concentração, mas em uma década a China industrial mudou sua geografia. Agora, os grandes grupos privados pesam o dobro dos grupos de capitalismo de Estado.
Miséria e mudança da China rural
A situação dos camponeses também mudou. Segundo o “People's Daily”. Os camponeses não precisaram vender a sua terra: não são constrangidos, como na Índia, a edificar favelas, porque fogem apressadamente do campo. Wen Xiantang escreve no jornal (05/06/2012) que na China a maior parte dos camponeses ganha sua renda através de uma combinação de trabalho agrícola e trabalho urbano; não são incentivados a vender o seu terreno agrícola.
“People's Daily é um jornal do regime e tudo o que escreve deve ser lido com lupa. De resto, certamente não faltam as fotografias da miséria da China rural. Os meninos das áreas rurais acima dos 5 anos estão em risco de má nutrição. O governo tomou medidas para os meninos em idade escolar, mas aqueles em idade pré-escolar estão abandonados. Assim, lemos na mídia chinesa.
No período entre 1990-2012, nas áreas rurais, o número de crianças subnutridas e raquíticas abaixo dos 5 anos era 3-4 vezes maiores do que nas áreas urbanas.
Na china central e ocidental, se tem duas ou três vezes mais possibilidades de sofrer de má nutrição em comparação com o leste, dada a diversidade do desenvolvimento econômico. Na China, há milhões de crianças abaixo de 5 anos, largadas nas áreas rurais, criadas pelos avós ou abandonadas pelos pelos pais migrantes.
Migração interna e tensões raciais
Não é necessário voltar muito atrás no tempo, nem mesmo 50 anos, para ler as tensões entre cidadãos de Milão, Torino ou Gênova e os migrantes do Sul, atraídos com o chamado da industrialização. Agora, compete à China cumprir esse percurso.
A mídia relata esse episódio significativo. Numa cidade, a polícia interviu para retirar uma banca diante de um supermercado, onde migrantes ambulantes vendiam suas mercadorias. Uma multidão se reuniu quando chegou uma ambulância, porque uma jovem ambulante grávida, havia desmaiado por conta de uma indisposição. A multidão ficou enfurecida segundo a imprensa, não havia acontecido nada, mas disseram que a moça havia sido ferida pela polícia. Inicia-se a rebelião, o riot .
Os rebeldes são originários de Sichuan: 20-30.000 trabalham nas fábricas da região por mais de dez anos. Os habitantes do vilarejo se organizaram contra os migrantes do Sichuan, os últimos da escala social. Comenta a mídia: se depois de dez anos não são ainda tratados como cidadãos normais, a explosão de sua raiva é o mínimo que se pode esperar. Uma década para serem absorvidos, lembra o tempo necessário para os emigrantes meridionais nas cidades italianas do Norte: depois chegou o outono quente do final dos anos 60.
Nada é simples no futuro da classe revolucionária, em qualquer parte do mundo. Muitas vezes, a herança do passado se mistura com as contradições da sociedade moderna; deixadas à espontaneidade dos acontecimentos, a classe revolucionária com frequência se divide ao invés de se unir.
Por fim, Lênin, nos estudos de 1897, com insistência recordava que para um revolucionário “contradição não significa impossibilidade”.

* Colaborador
   Fonte: “Lotta Comunista”/Intervenção Comunista.


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