Terror Vivido por Nilda Carvalho Cunha (1954-71)
Emiliano José
e Oldack Miranda relatam no livro Lamarca, o Capitão da Guerrilha
– levado ao
cinema por Sérgio Rezende – um fragmento do terror vivido por
Nilda
na prisão:
“(...)
Você já
ouviu falar de Fleury? Nilda empalideceu, perdia o controle diante
daquele homem corpulento. – Olha, minha filha, você vai cantar na
minha mão, porque passarinhos mais velhos já cantaram. Não é você
que vai ficar calada (...).
Mas eu não
sei quem é o senhor... – Eu matei Marighella. Ela entendeu e foi
perdendo o controle. Ele completava: – Vou acabar com essa sua
beleza – e alisava o rosto dela. Ali estava começando o suplício
de Nilda. (...). Ela ouvia gritos dos torturados, do próprio
Jaileno, seu companheiro, e se aterrorizava com aquela ameaça de
violência num lugar deserto. Naquele mesmo dia vendaram-lhe os olhos
e ela se viu numa sala diferente, quando pode abri-los. Bem junto
dela estava um cadáver de mulher: era Iara, com uma mancha roxa no
peito, e a obrigaram a tocar naquele corpo frio (...) 40.
Após ser
liberada, Nilda foi ao quartel-general acompanhada da mãe, dona
Esmeraldina. Queria autorização para visitar Jaileno, mas não
conseguiu. Na saída, quando descia as escadas, começou a gritar:
“Minha mãe, me segure que estou ficando cega”. Logo queixou-se
de falta de ar e começou a chorar. A partir daí entrou em
depressão, foi perdendo o equilíbrio, passando por crises de
cegueira, desmaios, ataques de choro ou riso sem motivo. Ficava horas
com o olhar perdido e recusava-se a dormir porque temia morrer
durante o sono. – “Eles me acabaram”, costumava repetir.
No dia 4 de
novembro, Nilda chegou a ser internada na Clínica Amepe, em
Salvador. Na ocasião, o major Nilton de Albuquerque Cerqueira
irrompeu no seu quarto e, na presença da mãe, ameaçou Nilda.
Disse-lhe que parasse com suas “frescuras”, caso contrário,
voltaria para o lugar que sabia bem qual. A visita indesejada
contribuiu para agravar o estado de Nilda. Transferida para o
Sanatório Bahia, faleceu. No seu prontuário consta que não comia,
via pessoas dentro do quarto – sempre homens, soldados –,
repetindo incessantemente que estava ficando roxa e ia morrer. A
causa da morte jamais foi desvendada. No atestado de óbito consta
“edema cerebral a esclarecer”.
Esmeraldina
Carvalho Cunha – incansável em denunciar a morte da filha como
consequência das torturas – apareceu morta em sua casa, cerca de
um ano depois. Buscando documentar o processo de Nilda, a Comissão
Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos realizou diversas
diligências. Mas os documentos mais importantes, capazes de
relacionar os males de Nilda com a tortura, tinham desaparecido
(Fonte:
portal.mj.gov.br)
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