O purismo e o verdadeiro Maluf
Por Gilson Caroni Filho
Ao
firmar acordo com o deputado federal Paulo Maluf (PP), se
deixando fotografar com seu adversário histórico, o
ex-presidente Lula produziu a perplexidade que dominou, no
primeiro momento, setores do próprio campo progressista.
O debate que se seguiu é da maior seriedade – e da maior
gravidade.
O
purismo tem que despertar da frívola ciranda para a dura
realidade do mundo adulto, do universo das relações reais entre
pessoas e partidos. O erro maior de quase todos os
revolucionários brasileiros , do século XIX em diante, foi não
apenas ter frequentemente cometido equívocos na análise das
condições objetivas, mas também no exame da condição subjetiva
fundamental, que é o alheamento político a que um modelo de
exploração desigual submeteu nosso povo. A exclusão de
processos decisórios torna-o cético diante do que não
sabe, enquanto a classe dominante dá o exemplo com sua atitude
invariavelmente cínica.
Analistas
políticos que não percebem bem o que acontece, por preguiça mental
ou má fé mesmo, pontificaram sobre a logística comandada por
Lula. E, triste, foram endossados por setores que se apresentam como
a “esquerda autêntica”. O papel de um operador político do
quilate do ex-presidente é semelhante ao do regente de uma
orquestra. Não faz a música, mas dá o compasso, define a
harmonia do conjunto e tira de cada instrumento o som mais
adequado.
Não
pode ser confundido com alguém ocupado em arranjos paroquiais
para colocar seu candidato em uma posição mais confortável. Não
deve ser tratado como bufão que faz parte do espetáculo, mas não
é bem-visto na peça. Não lhe faz justiça a roupagem de
um Moisés a quem cabia levar seu povo à terra prometida,
mas terminou por preferir ser adorador de um bezerro de ouro.
Não
houve vacilações ou atitudes opacas, mas perfeito tino da
logística requerida pela dinâmica política. A estratégia era
clara demais para comportar tergiversações: aliança com a
ex-prefeita Erundina e o PSB, à esquerda, para garantir o
apoio dos socialistas e neutralizar os descontentamentos do grupo
ligado à senadora Marta Suplicy. Aliança com Maluf, à direita,
para neutralizar parte do PSD de Kassab.
Esses
apoios levariam o candidato do PT ao segundo turno, até por que o PT
tem históricos 30% dos votos na capital e, a exemplo de Dilma, a
rejeição de Fernando Haddad é muito pequena em São Paulo. Para
isso, seria necessária a manutenção das candidaturas de
Russomano e Netinho, até então provável candidato do PCdoB
no primeiro turno. No segundo, ainda teríamos agregado o
apoio de Chalita do PMDB. Apenas assim se conseguiria
derrotar a máquina eleitoral do estado e do município de São Paulo
pró-Serra, que tem cerca de 30% de rejeição dos eleitores na
capital.
Pelo
visto , faltou combinar com uma geração que gosta do suicídio
político para expirar culpas sociais. Faltou dizer que o Maluf
atual, aquele que merece combate, aquele que é conhecido pelas
falcatruas e pelos métodos fascistas de lidar com
adversários e movimentos sociais, atende por outro nome: José
Serra. Será preciso desenhar?
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